sexta-feira, 5 de julho de 2019

CIRCUITO DA NOITE VADIA – Rafael Rocha

Do livro “Felizes na Dor – Tributo ao poeta Charles Bukowski” - 2016
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no retrato da noite e seu circuito
as pernas levam meu corpo aos bares
na rua da concórdia uma escada
leva o esqueleto ao puteiro
de dona iracema e aos braços
da myrtes e da shirley
todas com nomes franceses
boas putas de cama e de copo
nas avenidas ficam os desprezados
os sem sapatos e os sem casas
tentando recriar a vida
sob a luz do verde-amarelo
explorado pelos governantes

os pelos da buceta de shirley
foram colorizados de amarelo
com água oxigenada e tintura
para combinar com seus cabelos
pintados de um louro ácido
não sei o que os outros verão
quando olharem essa buceta
mas acho que nem sequer
colocarão os olhos nela
como eu coloco e vejo os pelos louros

um dia...
“estás é bêbado!” gritou ela
“sai desse quarto antes que chame
dona iracema e o negão júlio
tás pensando que sou o quê?
sou uma puta respeitosa
e se você não sabe o que é isso
vá perguntar à sua mãe”
ainda implorei sussurrando
ao pé das lindas orelhas dela:
“deixa! deixa! deixa eu fuder ele!”
“nunca! sou uma puta de respeito!”

dane-se a shirley e a lembrança
sartreana trazida à memória bêbada
do circuito desta minha noite vadia
retorno às ruas e levo meu corpo
ao bar mais próximo
“outra cerveja, garçom!”
após o primeiro gole descubro:
estou mais sóbrio que um poste!