Cheguei
até este limiar cheio de mim
Profetizando
a dor escondida dos homens.
E
delimitando no infinito do horizonte
Marcos
e marcas para todos os viajantes
E
neste limiar que pretende ser eterno
Profetizo
o verso ainda não posto à mesa.
(1)
O povo não é mais pescador
dele mesmo.
Arrasta a maldição da dor
Devido às manipulações
De quem ocupa a tribuna
E se diz autoridade.
O povo vive de restos
malditos
E nasce em berço muito pouco
esplêndido.
Não pretendo atirar a
primeira pedra.
Prefiro denunciar ao mundo
A ganância dos títeres.
Não pretendo aceitar
Os ditames da última era.
Debruçarei meu corpo
Nos balaústres das
pontes.
Atentarei meu olhar nos rios
sujos da cidade.
E tentarei falar a voz
humana:
“Sou pobre, mas honesto”.
Nem mais isso os meus
queridos
Devem no balcão da vida.
(2)
Hipócritas
Outros homens dizem representar
o divino
E abrem um livro dito sagrado
Para fundar igrejas
E corromper a mente dos ingênuos
Vendendo a fé como uma sopa
E a crença como um pão doce.
A justiça fica adormecida
Em seus palácios
Fazendo ouvidos moucos à
pregação
Inconveniente da ideia do divino.
Eles consagram os vendilhões
do templo
E beijam a moeda retirada do
bolso do pobre.
Este é um novo ritual
A fazer do inalcançável a
ilusão alcançada
E comprada como um sapato
Ou um trago de cachaça.
Ladrões da inocência!
A palavra dos honestos ainda
irá perfurar
Seus imensos corpanzis de
mentira e sujeira.
(3)
Ah, terra minha!
Ah, gente minha!
Vamos agitar nossa força nas
estradas!
Vamos subir aos mais altos
andares!
Vamos agarrar nossas
aspirações na marra!
Túmulos não foram feitos
apenas
Para quem não tem onde
morrer de fome.
E a Pátria Nordeste
Ainda não foi
De todo descoberta como ela
merece.
Escuta, ó gente minha!
As areias e os seixos dos
rios
Ainda estarão aqui pelos
próximos séculos.
E elas devem crer que nossos
guerreiros
Souberam agir
Com mente firme e mão
generosa.
(4)
Nem Cristo! Nem Guevara!
Nem Buda! Nem Maomé!
Nem Ocidente ou Oriente!
A salvação é criar um tempo
definitivo.
Agitar!
Lutar!
Sangrar!
Não vamos mendigar
Aos pastores da mentira
A ideia de um deus de
bordel.
Para que essa cegueira?
Nós somos o Reino!
Nós somos os olhos da vida!
(5)
Meu verso está sendo posto à
mesa
Às mãos dos semeadores da
palavra.
Não deem as costas ao poema!
Não estilhacem o sangue do
poema!
Não quero ver meus queridos
agonizando
Sob a oratória dos corruptos
E dos estelionatários da fé!
(6)
Lotadas as estradas
Com a esperança e seu verde
brilhante
Os homens golpearão seus
inimigos
Dentro do mais curto espaço
do tempo.
E meu espírito vestirá a
pele dos libertos
Desvendando as traições
Dos compradores de almas.
(7)
E todos irão saber:
O Senhor da Liberdade
Respira e vive na alma do
homem da terra.
Ele é forte e tem seu livro
sagrado
Escrito na palma das suas
mãos
E em sua pele enrugada.
Com os palácios derribados
Com os falsos senhores
desgrenhados
O homem real da terra
Poderá desfrutar a vida
E aprisionar parasitas
Que de nada cuidam
Mas apenas enaltecem a cruz
e a morte.
(8)
Caminhemos!
Caminhemos!
A estrada é longa!
Vamos buscar mulheres e
homens!
O Senhor da Liberdade
respira
E tem seu livro sagrado
Escrito na pele enrugada
Dos homens tristes e pobres.
(9)
Quando o vento nordeste
varrer o semiárido
As fogueiras das vaidades
Terão de ser apagadas
Mas acender-se-ão luzes de águas.
As chuvas ficarão plantadas
Nas carnes dos guerreiros da
vida
E dos livros rasgaremos as
páginas
Das “histórias oficiais”
Escritas pelos opressores.
(10)
Ah, meu verso profético!
Que beleza!
Chegou para extravasar a sua
ira.
Chegou para render homenagem
Ao homem da Pátria Nordeste.