Segundo capítulo do romance homônimo
lançado no ano de 2012 – Agraciado com Menção Honrosa pela Academia
Pernambucana de Letras (APL) – Prêmio Vânia Souto Carvalho (2011)
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O vulto magro e vestido de negro se esgueirava
rente aos muros. A rua parcamente iluminada ajudava a deixá-lo escondido às
vistas das demais pessoas. Mas nenhuma pessoa naquela hora da madrugada
transitava pela via. Um pouco mais longe, a segui-lo, outros três vultos. De
vez em quando, a pouca luz da rua deixava entrever corpos grandes e musculosos,
cobertos por capas negras de chuva e chapéus também negros.
O vulto magro vestido de negro parou sob
uma árvore frondosa na calçada em frente a um terreno baldio. Os outros três
que o seguiam também pararam um pouco mais distantes, observando o gesto rápido
que o magro fazia com a mão. Apontava para o outro lado da rua. Os grandes e
musculosos homens seguiram com os olhos o gesto e também olharam para o outro lado
da artéria, onde uma iluminação um pouco mais ampla deixava ver dois rapazes
pichando um muro.
Apesar de grandes, os três homens eram
rápidos. Seguiram rapidamente para o outro lado, obedecendo ao gesto seguinte
do magro. Atravessaram correndo a avenida e como urubus famintos caíram sobre
os dois jovens. Lâminas cortaram o ar. Silvos agudos acabaram com o silêncio.
Depois, o homem magro vestido de negro
estava ao lado dos outros três, olhando os dois rapazes mortos com as gargantas
cortadas, sangue a gorgolejar sobre a calçada defronte ao muro que estavam a
pichar na calada da noite. “Bom
trabalho”, disse ele. “Agora, cortem
as cabeças e façam o que já sabem fazer. Cabeças num lugar, corpos noutro”.
Um jipe de capota escura parou rente ao
meio-fio. O motorista, gordo e suado ao volante, não moveu um músculo quando os
dois corpos foram jogados na parte traseira do veículo. Dois daqueles homens
vestidos de negro entraram no jipe, o qual rapidamente arrancou, deslizou sobre
o asfalto da avenida, tomou velocidade e desapareceu na primeira esquina.
No
local ficaram o magro e um dos rapazes robustos. Olhavam a frase incompleta, em
letras vermelhas e grandes que estava a ser pintada no muro caiado de branco da
fábrica de algodão. “Imbecis! Não tomam
jeito”, disse o magro, enquanto colocava um cigarro nos lábios, acendia-o e
ficava a esperar. Não demorou muito e um caminhão com as luzes apagadas
estacionou frente a eles. Dele desceram alguns homens fardados munidos de
baldes de tinta e pincéis. Sem dizer palavra alguma começaram a caiação do
muro, apagando a frase quase terminada. Não levantaram os olhos para ler o que
estava escrito. Sabiam muito bem o que era. Deram a primeira pincelada, depois
outra, começando a apagar a frase que dizia: “VIVA CUBA! ABAIXO A DITADURA
MILIT.....”