Do livro “Loucura”
– 2018
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O antigo sonho de paixão seja lembrado
antes de o barco de Caronte aportar no cais.
(Ainda não tenho a moeda da passagem!)
(Apenas recordações várias e sofríveis!)
Lembro como ofertei paixão à vida inteira
e criei penhor em corações rudes e frios
fundando vilas e cidades dentro das carnes.
Celebraram tudo isso como utopia!
Uma ilha fantástica sem realidades
quando eu acreditava no veraz da vida!
Pena que as casas sejam de pensamentos
mesmo sabendo caber no interior de todas
um mundo intenso e lúdico e infinito!
Pena que os alicerces sejam de ilusões!
Antes de o barco de Caronte
aportar no cais:
- Apareça, amor, apareça! -
Diga se eu tive ou não razão em sonhar!
Toda a loucura eu abriguei em devaneios
como se eles fossem cidadelas invictas
criadas por palavras e letras fantásticas
até que os ventos maléficos deram-se a uivar
tentando destruir meus gestos indomáveis.
(Tudo aquilo que me fez viver/sonhar!)
(Tudo aquilo que me levou a ser poeta!)
Ainda hoje esses ventos furiosos renascem
loucos, enraivecidos e prontos
para derrubar minhas frágeis casas.
Eles chegam com
ares de psicopatas!
Sopram e derrubam
as folhas do arvoredo!
Destroem tudo de
humano e de paixão!
Até que do meu
cantar sobra uma réstia
pelas ruas vazias
das vilas e das cidades
onde eu tentava
acreditar na incitação
de um poema e da
metáfora desse poema.
Antes de o barco de Caronte aportar no cais
desejo caber inteiro na liquidez das palavras
como sendo um imenso lago ou oceano
ou o grandioso estuário de vários rios.
(Como sendo um H2O inimigo do Sol!)
Pecador sem arrependimentos!
Um homem simples na busca do sonho real
mais eternidade que esta curta vida!
Antes de o barco de Caronte
aportar no cais:
- Apareça, amor, apareça! -
Diga se eu tive ou não razão em sonhar!