Do livro “Contos Delirantes com Versos
em Bolero” - 2017
Quando os
homens fardados de verde entraram no colégio, o medo tomou conta de todos os
alunos adolescentes.
Afinal de
contas, isso não acontecia todo dia.
Um
truculento sargento dava ordens em voz alta e ríspida.
- Procurem
em todas as salas. Façam um pente fino! - gritava.
- Eles estão
procurando quem? - perguntou Osório ao colega Ítalo.
- Devem
estar procurando o Aderaldo - respondeu Ítalo.
Os homens
fardados iam de sala em sala.
Pegavam o
livro de chamada e iam chamando os alunos um por um.
- Pela ordem
alfabética o Aderaldo deve estar no topo da chamada - disse Osório.
- Estão
entrando na sala dele agora - exclamou Ítalo.
- Mas o
Aderaldo faltou à aula hoje – rebateu Osório.
Os homens
fardados ficaram frustrados.
E o
sargentão mais ainda.
- Ele não
está aqui, sargento - disse o cabo.
- Que merda!
A denúncia dizia que ele estaria aqui assistindo aula.
- Já demos
pente fino duas vezes, sargento.
- Não
podemos voltar de mãos vazias pro quartel, cabo. O capitão Clemens vai fuder
com a gente.
Enraivecido
por não encontrar Aderaldo, o sargento começou a andar de lá para cá no pátio
de exercícios da escola.
Depois de
uns minutos deu ordens para que a maioria dos militares retornasse para os
caminhões estacionados na frente da escola e ficou no pátio com o cabo e mais
quatro soldados.
- Aquele
livro vermelho está na tua sacola, cabo?
- Qual
livro?
- Porra!
Aquele tal de manifesto comunista que o capitão disse que o tal Aderaldo estava
lendo ontem na praça. A prova do crime, cabo!
- Ah, sim!
Sim! Está comigo!
- Ótimo!
Está vendo aquele cabeludinho lá no fim do pátio, sussurrando no ouvido daquele
magricela?
- Sim,
sargento. Estou vendo!
- Prenda
ele! Pega esse manifesto e “planta” no meio dos livros do cabeludinho e lhe dê
ordem de prisão. Lá no quartel o capitão resolve o que fazer.
Dito e
feito, o cabo, acompanhado dos quatro soldados aproximou-se de Osório e deu voz
de prisão.
- Eu? Eu? O
que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? - ficou a gritar Osório, enquanto era
manietado e levado quase arrastado até os caminhões.
-
Vida difícil essa de militar! - lamentou o sargento, dando um longo suspiro,
aprumando o corpo e dirigindo-se para o jipe verde sem capota, que o esperava
em frente ao prédio do colégio.