quinta-feira, 27 de junho de 2019

LOUCURA – Rafael Rocha

Do livro “Loucura” - 2018

Você viu as pernas roliças
perfeitas pernas
da mulher noturna
sentada em nossa frente
no banco da praça?
As coxas emoldurando
o vestido vermelho
olhos fechados
como a escutar
cantares de pássaros?
Você viu?
Viu?
E não tens vontade
de olhar mais a fundo
o secreto recôndito
do entre pernas?
Não tens desejos
fortes e amplos
de sentir o odor
do muito mais secreto
voando para fora
do vestido vermelho?
Tem vontade?
Tem?
- Do que falas? Estás louco?
Amigo, nós conhecemos
essa linha tênue
entre sanidade e loucura
e é por esse fator
a chegada da pergunta:

Não tens vontade
de olhar mais a fundo
o secreto recôndito
escondido no vermelho
das vestes da mulher noturna?
Ah, sim!
Sei que você tem o desejo
preso e a esperar
pela anuência
do belo corpo deglutido
no teu cérebro
para cruzar a linha
do equilíbrio e da sensatez
onde vivemos prisioneiros.
- Porra! Não entendi!
Que merda é essa? 

Deixa isso pra lá, meu amigo!

MARCOS DO TEMPO – Rafael Rocha

Do livro “Marcos do Tempo” - 2010

Em um marco da praça
– sempre um sol –
Verde é a cor da luz
Lindo é o riso das putas
Oferecendo corpos
À voracidade financiada do sexo

Em um marco zero
– sempre uma estrela –
Branca é a cor do oceano
Beleza é o vigor dos estivadores
Carregando tralhas
À ferocidade poliglota do consumo

Em um marco de torre
– sempre uma cruz –
Cinzento é o estupor dos séculos
Triste é o olhar das beatas
Rezando nas igrejas
À memória dos santos invisíveis

Em um marco de campo
– sempre lápides sós –
Amarela é a lágrima da dor
Mágoa é a perdição do corpo
Que enterramos no chão
Por uma lei inerente ao universo

Em marcos de cimento e pedra
– sempre muitos lares –
Vermelha é a cor das almas dos homens
Guerreiros centenários
Na espera dos ressuscitados
Pela sangrenta bandeira da ilusão

Em um marco de carne
– sempre homem e mulher –
Azul é a cor da liberdade
Força para todos os marcos
Marcados no tempo 
No caderno infinito da vida.

TEMPO DE ARMAS – Rafael Rocha

Do livro “Abismo das Máscaras” – 2017

Tempos há que nos têm chegado
em espasmos de sal e maresias.
Tempos a se fazer de errantes
numa crônica ou numa poesia.
Tempos de ideias fabricadas
por ladrões e juízes
e governantes canalhas.

Tempos a vir terão de ser armados
com discursos e gritos roucos
e fogo e balas de canhão.
Tempos que se devem fazer presentes
nas ruas e nas esquinas e nos becos.
Tempos de ideais a serem concretizados
por homens e mulheres e crianças.

Para existir calmaria na terra
e calmaria no mar
temos de construir tempos armados.
Temos de erguer barricadas 
ou morrer.

MEIO A MEIO – Rafael Rocha

Do livro “Meio a Meio” – 1979

Aqui a poesia
vem pela metade.
Abre-se para o espaço.
Reafirma-se mais.

Reafirma-se mais.
Escuta a voz do tempo.
Angústias e tormentos.
Dos poetas que sofrem.

Os poetas sofrem.
Porém são mais felizes.
Arremessam-se viris
em todas as fronteiras.

Nas fronteiras todas
as baionetas caladas
atravessam os poetas
sem terem convites.

Eles reafirmam-se mais.
Abrem-se para o espaço.
Juntam-se à outra metade: 
À poesia. Aqui!

BANALIDADE - Rafael Rocha

Do livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” – 2017

Os amores que não os tive se tornaram aves
Fazendo ninhos nas árvores e pousando nas janelas
Voando pelas manhãs e voando pelas tardes
Com trinados assustados ecoando nas florestas.
Tento escutar o burburinho de seus cantos
Nas vozes dos filhos, na da amada e nas dos irmãos
Só fazendo-se pássaro para saber esse acalanto
Na profundeza imensa da minha imperfeição.

Os sonhos que pensei fazer reais não os foram
Voaram como aves errantes e se perderam no ar
Nem sequer fizeram ninhos nas árvores das florestas
Nem sequer foram afoitos na loucura de cantar.
Restaram só as coisas mais simples das andanças
Sem ninho e sem folhas, realista e animal:
 Homem feito em mim tal ave sem trinados
Voando no circuito de uma vida banal.

AVENTURA DO POPEYE – Rafael Rocha



Do livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” - 2017
Carnaval.
Sábado. Dia do Galo da Madrugada.
Saiu de casa cedo, fantasiado de marinheiro.
O ônibus demorou bastante para chegar, e quando chegou nestava lotado como uma lata de sardinha.
Conseguiu entrar e passar pela catraca.
Uma linda criatura, talvez com 17 ou 18 anos, morena e de olhos verdes bem repuxados, cabelos curtos e encaracolados, em pé ao lado dele, sorriu.
Correspondeu ao sorriso.
- Acho que estou bem fantasiado! - pensou.
O ônibus chegou no centro do Recife, na Avenida Conde da Boa Vista, e logo em frente ao Bar Mustang ele desceu.
Olhou para os lados e viu homens e mulheres indo e vindo. A cidade estava bem cheia para aquele horário das nove da manhã.
- Vai ter muita gente hoje! - voltou a falar com seus botões.
A linda criatura do ônibus, que tinha sorrido para ele, apareceu de repente em sua frente.
- Como é, Popeye! Vamos?
Olhou para ela e estranhou o convite. Não a conhecia, mas carnaval é carnaval.
Saíram andando lado a lado. Ela parou em um quiosque e comprou uma máscara colorida. Pediu ajuda para que ele colocasse a máscara.
Ele ajudou.
- Fiquei mais bonita? - perguntou.
- Você é mais bonita sem máscara. Mas carnaval é carnaval - respondeu ele.
Sentiu a mão esquerda dela a tocar sua mão  direita. Gostou do toque.
- Vamos atravessar a ponte e ir para onde o Galo vai começar a desfilar? - perguntou ela.
As duas mãos se entrelaçaram. Ele pensou na esposa que tinha ficado em casa vitimada por uma forte gripe. Olhou para a sorridente e linda criatura.
- Vamos! - respondeu.
Atravessaram a ponte Duarte Coelho, pegaram a Avenida Guararapes, depois seguiram pela Rua do Sol, alcançando a Rua da Concórdia e lá estavam ambos em frente ao Forte das Cinco Pontas.
Na andança beberam, cada um, duas grandes latas de cerveja.
O calor estava forte.
Os carros dos trios elétricos estavam prestes a sair. Fogos de artifício pipocavam. Beberam mais duas cervejas e começaram a frevar e a cantar e a curtir um ao outro. As bocas se colaram num beijo longo e molhado.
Ela deixou que ele a encoxasse por trás e ficou remexendo o corpo contra o corpo dele. Ele mordeu levemente a nuca dela. O perfume dela estava a entontecê-lo.
- Você é muito cheirosa! - disse, ao pé do ouvido dela.
Escutou a risada cristalina. Ficou mais excitado. Envolveu o corpo dela com os braços e deixou as mãos subirem até os seios.
Pequenos. Redondos.
Apertou suavemente os dois. Ela gemeu, voltou o rosto para ele e ofereceu a boca.
Beijaram-se com mais vontade ainda.
Ele já tinha esquecido a esposa presa em casa por forte gripe.
- Carnaval é carnaval! - pensou.
O Galo da Madrugada com seus trios elétricos saiu fulgurante e musical pelas ruas da cidade do Recife, mas eles tomaram ruas adjacentes, fugindo da multidão.
O desejo era forte. Os amassos excitantes. As mãos dela, tateando sua virilha estavam a deixá-lo marinheiro fora do rumo.
- Meu Popeye! - exclamou ela, fazendo com que a excitação dele aumentasse.
Adentraram o Pátio de São Pedro, terminaram saindo pela Rua da Praia e no fim de tudo lá estavam os dois bem agarrados e se beijando em frente ao chafariz da Praça 17.
Ele deslizou as mãos pelo pequeno short que ela usava.
Acariciou as coxas.
Subiu por baixo da blusinha de quase nada de pano e conseguiu segurar com ambas as mãos os dois pequenos e redondos seios.
Ela deixou que ele colocasse os seios para fora da blusinha e que sugasse os bicos como uma criança faminta.
Gemia e gemia, satisfeita.
Ele deslizou as mãos e tentou abaixar o short dela.
 - Aqui não! Por favor, meu Popeye, aqui não! - pediu ela.
Ele olhou para os lados. Viu um pequeno beco na confluência da Praça 17 com a Rua Duque de Caxias. Estava penumbroso, quase escuro.
Pegou ela pela mão. Ela entendeu. Saíram quase correndo para o beco e para a penumbra do beco.
E ela deixou que ele baixasse o short dela e depois a calcinha e depois...
Um pênis pequeno, saliente e duro apresentou-se aos olhos de Popeye.
- Você... você é... você é... - gaguejou ele.
Ela acariciou o rosto dele. Sempre sorrindo.
- Isso é ruim, meu Popeye? - perguntou.
Ele do jeito que estava, completamente excitado, nem soube o que responder de imediato. Olhou para o rosto lindo e angelical da criatura que o fitava, fez com que ela virasse o corpo e ficasse de costas para ele e antes de entrar em atuação disse ao seu ouvido 
- Não... não... não... Carnaval é carnaval!