O
antigo sonho de paixão seja lembrado
antes
de o barco de Caronte aportar no cais.
(Ainda
não tenho a moeda da passagem!)
(Apenas
recordações várias e sofríveis!)
Lembro
como ofertei paixão à vida inteira
e
criei penhor em corações rudes e frios
fundando
vilas e cidades dentro das carnes.
Celebraram
tudo isso como utopia!
Uma
ilha fantástica sem realidades
quando
eu acreditava no veraz da vida!
Pena
que as casas sejam de pensamentos
mesmo
sabendo caber no interior de todas
um
mundo intenso e lúdico e infinito!
Pena
que os alicerces sejam de ilusões!
Antes
de o barco de Caronte
aportar
no cais:
-
Apareça, amor, apareça! -
Diga
se eu tive ou não razão em sonhar!
Toda
a loucura eu abriguei em devaneios
como
se eles fossem cidadelas invictas
criadas
por palavras e letras fantásticas
até
que os ventos maléficos deram-se a uivar
tentando
destruir meus gestos indomáveis.
(Tudo
aquilo que me fez viver/sonhar!)
(Tudo
aquilo que me levou a ser poeta!)
Ainda
hoje esses ventos furiosos renascem
loucos,
enraivecidos e prontos
para
derrubar minhas frágeis casas.
Eles chegam com ares de
psicopatas!
Sopram e derrubam as folhas
do arvoredo!
Destroem tudo de humano e de
paixão!
Até que do meu cantar sobra
uma réstia
pelas ruas vazias das vilas
e das cidades
onde eu tentava acreditar na
incitação
de um poema e da metáfora
desse poema.
Antes
de o barco de Caronte aportar no cais
desejo
caber inteiro na liquidez das palavras
como
sendo um imenso lago ou oceano
ou
o grandioso estuário de vários rios.
(Como
sendo um H2O inimigo do Sol!)
Pecador
sem arrependimentos!
Um
homem simples na busca do sonho real
mais
eternidade que esta curta vida!
Antes
de o barco de Caronte
aportar
no cais:
-
Apareça, amor, apareça! -
Diga
se eu tive ou não razão em sonhar!