domingo, 18 de agosto de 2024

ÁRIA TRISTE - RAFAEL ROCHA

Andei por agrestes e sertões.

Vi a fome a viver nas multidões.

Animais mortos ao sol,

crestando os ossos.

Homens sem ter onde morrer.

Mulheres mortas ao prazer.

 

A cigana jogou os búzios na terra quente,

tentando descobrir caminho de águas.

Apenas a vida sangrava.

Apenas o sol queimava,

enviando raios inclementes,

secando todas as nascentes.

 

Não consegui cantar amor!

Não consegui cantar ódio!

Não consegui nada!

Consegui fazer nascer a ária da tristeza,

enquanto a fome assassina

queimava estômagos vazios. 

MARIPOSAS - RAFAEL ROCHA


 Quando ao redor do meu corpo

voejaram

centenas de mariposas azuis

descobri minha loucura

nascendo em um poema saudável.

 

Não sei se ao meu redor

as pessoas lembram

das centenas de mariposas

dançando alegres

ao redor de minha epiderme.

 

Na verdade eu sei como recordam

as luzes de mim quase apagadas

e os gemidos contínuos

desses insetos morrendo

em um tempo escuro

fora da minha dimensão.

 

Mariposas em carícias esvoaçantes

faziam a loucura dos amigos

quando insinuavam seus pedidos

agitando meus sentidos

solicitando com avidez

um poema novo.

 

Depois esqueciam as palavras

e saíam pelas ruas em zombaria

e apenas o corpo da mulher amada

bafejava em mim o cheiro saboroso

e desassossegado

da paixão.