domingo, 12 de janeiro de 2020

FERAS (1968) – Rafael Rocha

Do livro “Poemas dos Anos de Chumbo” - 2017
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As feras de olhos demoníacos
roubam o pão das crianças.
Matam os peixes dos mares.
Torturam homens leais.

Um dia não haverá cadeia sobrando
para os ladrões das almas
que fazem dos seres humanos
peixes em um aquário.

Usam estrelas nos ombros
e algemam a liberdade.
São bandidos da palavra
e inimigos da humanidade.

PROSCRITO – Rafael Rocha

Do livro “SANGRAMENTO” incluído na coletânea “POETAS DA IDADE URBANA” - 2013
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Tornei-me um proscrito de velhas andanças
Em ventres macios e em mãos feminis
E hoje relembro as estranhas distâncias
De homem perdido em espaços senis

Tornei-me um fugaz exemplo de danças
De corpos colados e de beijos febris
E hoje recordo que tinha esperanças
De ter em meu corpo teus gestos sutis

Ainda não sei se caminho ou se corro
Mas sei que transcorro loucuras azuis
E no verde dos morros ainda percorro
Versinhos antigos que a alma traduz

E nessa linguagem que ninguém venera
Eu sou um poeta quase sem versejar
E ao lembrar a juventude onde eu era
Pretendo voltar a pensar, pensar, pensar....