Do livro “Marcos do Tempo” – 2010
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Deixando em sal
as minhas águas da península.
Tristeza de ter sido mundo
Tristeza de ter sido mundo
em tempo exilado.
Como dando sabor
Como dando sabor
às lágrimas do desterro
o meu outrora da vida
o meu outrora da vida
ter-me desajustado.
A dor fluiu!
Os dias ficaram inúteis e
vazios.
Tal presença de glória
Tal presença de glória
tanto eu ousei sonhar:
Cabelos brancos
Cabelos brancos
a emoldurar o belo crânio...
A caminho de Caronte
A caminho de Caronte
essas geleiras vão passar.
Lembro a voz na mesa do bar:
Eu não te conheço!
Preso o pranto,
Preso o pranto,
enregelou-se em pedra a dor.
Marcante dor a invadir
Marcante dor a invadir
a espécie de mim.
Eis a voz sorrindo
Eis a voz sorrindo
a desprezar o amor.
Paixão interrompida!
Dá-se e tira! Tudo a se acabar!
Mundo que expira assim
vai para outros mares a flor.
Igual aos versos mais antigos
a sonhar desditas:
“Fonte não me leves,
“Fonte não me leves,
não me leves para o mar”.
Eis o tempo: a fonte fria!
Sorriso zombador!
A matar o esplendor maior
A matar o esplendor maior
daquela triste lira.
Antes de ser jogado
Antes de ser jogado
ao mar o corpo frágil
salvaram-no as areias
salvaram-no as areias
e o perfume de uma ilha.
Braços amplos acolheram
o poeta incendiado.
Deram-se mãos à paixão
Deram-se mãos à paixão
na jovem pressa da vida.
O amor fluiu venoso
O amor fluiu venoso
em novos corpos recriados
e renasceu na glória
e renasceu na glória
da ilusão impressentida.
Cabelos brancos
emolduram o belo crânio.
Tais espessas geleiras
Tais espessas geleiras
no caminho de Caronte.
E a voz repete na vida:
E a voz repete na vida:
Não mais te conheço!
Não sei quem és!
Não sei quem és!
Nem imagino de qual lugar de onde...