sexta-feira, 28 de junho de 2019

IMEMORIAL – Rafael Rocha

Do livro “Farol” - 2019

O louco pretende resguardar sua idiotice
     criando na terra-mãe um sol poente.
                                                   
  Não quer nada com a alegria dos outros.

Mas suas alegorias têm de ficar brilhando
como pisca-piscas
azuis/vermelhos/brancos
no corpo de um papai-noel usa.

Felizes com as suas escolhas os bandidos 
homens/mulheres da terra-mãe
nem sequer fizeram um bolo confeitado
com as velinhas de mais de 500 anos
para celebrar vice-reis e donatários.

Continuaram
com a farsa dos velhos quinhentos
sabendo que os donos da terra
não têm memória 
para recordar crimes do antanho.

DESPERTAR DAS CONSCIÊNCIAS – José Carlos Gomes

Prefácio do jornalista José Carlos Gomes para o livro “Farol” (2019) de Rafael Rocha

Temos um Farol em nossas mãos!
Isso mesmo, caro leitor, o poeta Rafael Rocha, nos oferece uma luz capaz de iluminar, sob forma de poesias, os acontecimentos de um dos momentos mais obscuros da história brasileira.
Categórico, sem subterfúgios, duro, sem hesitação, este livro descreve o cenário em que nós, os atores políticos, perambulamos às cegas, atuando em cenas que, na maioria das vezes, beira o grotesco.
Mesmo assim, o autor não busca o susto, o medo. Propõe o despertar das consciências.
No poema que inicia e dá título ao livro, Rafael ressalta a turbulência que o nosso barco enfrenta: “Busco avisar sobre o abismo nas águas com minha luz rápida e voadora”.
A luz do Farol cria trilhas nas águas com a audácia de sua linguagem: “O grande navio e os seus tripulantes pedem pelo clarão da estrela-guia”. “Clarão que tenta salvar vidas e impedir o naufrágio do grande barco”.
Nas mais de sessenta páginas deste livro, o autor faz uma verdadeira tomografia poetizada do vácuo político e dos piores aspectos da nossa sociedade como o preconceito, a intolerância, a mentira e o desejo de vingança.
Rafael Rocha não permite a omissão, o cinismo de negar que exista, de fato, uma nuvem negra ao nosso redor.
Está na hora, portanto, da tomada de posições.
O Farol faz esse chamado à resistência.
A leitura deste livro nos dá a noção exata de que essa nuvem negra não é um fenômeno atmosférico e nem tão pouco o efeito da emissão de gases poluentes produzidos por grandes polos industriais.
Ele nos revela que se trata da materialização de um sentimento.
É verdade!
Precisamos concordar com o autor que, hoje, caminhamos pelas ruas envoltos numa neblina, densa, tóxica, carregada de ódio, concentrada principalmente, onde grupos antidemocráticos assumiram o poder.
Sentimos uma sensação de angústia quase palpável, asfixiante, como uma premonição de que algo de muito ruim está para acontecer.
Qual é a origem desse mal? Quem é, de fato, culpado pela criação dessa atmosfera nauseante?
Durante algum tempo essa foi uma das discussões ocorridas nas redes sociais. Os dedos acusadores apontaram para direções opostas. Eles diziam que fomos nós.
Mas o fato é que estivemos sempre com armas - mesmo que simbólicas - apontadas o tempo todo para nossos corações. O aniquilamento ou o exílio eram nossos únicos caminhos.
“Queremos nosso país de volta” foi a senha para o aprisionamento da esperança.
A partir daí, abriu-se um lugar secreto de onde saíram os escravocratas modernos, os racistas, os misóginos, os homofóbicos. Mas não há nenhuma novidade nesse circo de horrores. Apenas caíram as máscaras.
Há 519 anos enfrentamos esse mesmo monstro. E não é agora que vamos depor nossas armas. Muito menos perder nossa alegria de viver. “Nada a temer, senão o correr da luta”, já dizia o grande poeta Milton Nascimento.
A democracia costuma passar por duras lições e precisamos nunca esquecer que elas são as melhores professoras da História.
O Farol é primoroso por conseguir iluminar várias faces da alma humana, funcionando como um pêndulo, ora acariciando o amor, ora esmurrando o ódio e, no centro do seu balanço, flertando com a esperança.
No poema Sintaxe, o poeta lembra que o amor e o ódio caminham lado a lado porque “nenhum deles sobrevive sem a sintaxe da vida”.
Este livro de Rafael Rocha, após cair em nossas mãos se torna um instrumento indispensável para nossa orientação nesses dias tormentosos. 
Precisamos providenciar, imediatamente, a instalação de um farol no ponto mais alto de nossa dignidade.

FAQUIRES – Rafael Rocha

Do livro “Farol” - 2019

Uma cama de pregos é o futuro
da próxima geração trabalhadora.
Todos serão faquires de si próprios
e ganharão manchetes internacionais
em
The Washington Post,
The New York Times,
The Wall Street Journal,
The Guardian,
Daily Mail,
Berliner Zeitung,
El Pais,
Correio da Manhã:
“Brazilians sleep in fakirs beds”
“Brasilianer schlafen in Fakirs Bettens”
“Los brasileños duermen en cama de faquires”
“Brasileiros dormem em camas de pregos”
                                               
Nenhum outro caminho surpreendente
estará mais próximo da realidade
dos tempos de agora.
As mulheres serão caniços prontos
para alinhar linhas de pesca
e as crianças
como caules desclorofilados
terão olhares tristes 
como os dos peixes mortos.

GRÁVIDO DE REVOLTA E SOLIDÃO – Evaldo Costa



Prefácio do jornalista Evaldo Costa para o livro “Loucura” (2018) de Rafael Rocha

Já houve – e ainda há – poetas que escrevem  vestindo fraque e cartola. E os que fazem poemas diante do espelho, mirando e namorando a própria imagem refletida.
Numa esquina de Belo Horizonte, perto de uma velha livraria, Drummond viu e anotou: “O poeta municipal discute com o poeta estadual qual deles é capaz de bater o poeta federal. Enquanto isso o poeta federal tira ouro do nariz“. João Cabral de Mello Neto gravava na pedra, a cinzel, versos agudos como navalhas, facas só lâmina.
Há poetas da palavra, poetas dos sonhos e dos pesadelos. Poetas de poesia  diáfana e poetas que se lambuzam na matéria humilde, dispersa e apodrecida no chão úmido e fétido dos pântanos. Há poetas que entregam poemas concretos como everestes. E outros de fala macia e de dicção molenga como se escrevessem deitados em almofadões.
Há poetas que gritam hexâmetros  destrambelhados e poetas que sussurram versos inaudíveis. Há poetas das esquinas angulosas e loucamente movimentadas das metrópoles e poetas dos áridos (de)sertões e das terras esquecidas. Há poetas que pescam versos nos bares e puteiros e os que, no claustro, tecem elegias místicas, apaixonados por uma vida além da matéria.
Há poetas que manejam bisturis e traçam cortes precisos na carne e outros que manejam foices e martelos e dilaceram, estraçalham, despedaçam, num misto de desespero – porque acham que tudo está perdido – e de ânsia de sobrevivência, pois desconfiam não haver nada além desta vida.
Rafael Rocha, autor deste Loucura, pertence a esta última categoria.
 Ninguém ouse inquiri-lo sobre os segredos de sua poética, tecnicalidades que admira nos grandes e rejeita para si mesmo. Como Bandeira, ele está farto do lirismo comedido. Do lirismo bem comportado. Do lirismo funcionário público com livro de ponto, expediente, protocolo e manifestações de apreço.
A poesia de Rafael despreza a contabilidade silábica e se espraia na página em direção às margens, sonhando mimetizar vendavais e tsunamis.
O poeta Rafael Rocha vocifera mesmo quando fala de amor e destempera mesmo quando entoa tons e semitons. O poeta quer tão gulosamente devorar a vida que nunca dorme, apenas, de vez em quando, desfalece. Por consequência, ele jamais desperta, na verdade, subitamente renasce de uma pequena e sobressaltada morte.
Os poemas que compõem este volume são dominados por certa ideia de desconformidade – a que dá nome de loucura. A própria palavra-título é mencionada 31 vezes nos diversos textos, enquanto outras como insanidade, insano, louco e louca também aparecem em outros poemas.
Este livro Loucura, obra de um poeta que não se enquadra nem se amofina, chega grávido de revolta e solidão, clamando para ser lido em voz  alta e usado como arma contra a mesmice e o conformismo.
Não interessará aos bem pensantes e bem postados. Que se fodam! Rafael escreveu este Loucura justamente para dizer que nada tem a ver com essa gente. Escreveu para quem tem sede de liberdade e de justiça.
E fez muito bem.

CONJUGAÇÃO DO NUNCA – Rafael Rocha

Do livro “Marcos do Tempo” - 2010

                           Eu escrevi versos a um amigo...
Cheios de idiotices
            Cheios das coisas do antes
                Cheios da música dos ventos
           Cheios de sexo com o mar

                         Eu escrevi a nudez do amor
 abandonado na ilha.
      Em marcha para a foz.
Sem bandeira e luz
e oceano... sem voz

                         O amigo escreveu verbos amar/apaixonar
       – Verbos de masturbar –
– Verbos de beijar –
          – Verbos de ser/estar/fazer
                                            O tempo do nunca

FELIZES NA DOR - Rafael Rocha (*)

Do livro “Felizes na Dor – Tributo ao poeta Charles Bukowski” - 2016

ponham os copos na mesa
acendam seus cigarros
tem litro de cachaça e muita cerveja
para rolar esta noite
estão cansados?
não existe cansaço para os notívagos
a eles é dada a solidão dos felizes na dor

duas horas da manhã
e vocês querendo mulheres e fodilanças?
eu serei bondoso mesmo que vocês fiquem bêbados
se alguém pegar aquele violão
abandonado lá no canto
e resolver cantar uma canção qualquer
conseguiremos espantar nossas mágoas de ébrios

elas não virão hoje
(puta merda!)
fiquem certos disso
elas são sombras decaídas e nos odeiam
por sermos tão honestos e sensíveis
e por bebermos a vida e por fumarmos a vida
ainda quero que alguém pegue o violão abandonado
e dê voz a uma canção cheia de putaria

e tu ainda diz - meu deus que grande farsa!?
- bebe o líquido amargo de tua cerveja, porra!
estás mais perto do nada que esse deus
esse abominável!
esse trágico comediante das esferas celestes
que prega a morte como culto
e deixa matar o próprio filho
para salvar os homens de suas merdas.

na verdade, vos digo, na verdade
e agora sou eu o vosso profeta
“se quer saber onde está deus, pergunte a um bêbado”
(essa frase é do bukowski, outro amigo desta merda de vida!)
o bêbado tem mais consciência
da localização da mentira que um homem sóbrio

deixa que o violão toque sozinho
todas as canções do mundo
elas não cabem em nossas cabeças
que só pensam em mulheres
nos cigarros e nas cervejas
e nas ingratidões da vida
mas continuem a encher os copos
quero todos bêbados e voláteis
dançarinos de suas próprias infelicidades.
.......................

* (Escrito e falado por mim na bela cidade do Recife
no bar Mansão do Fera no louco ano de 1980, quando as merdas da vida eram mais reais que as merdas religiosas)

ÚLTIMA CANÇÃO – Rafael Rocha

Do livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” - 2017

No momento de compor a última canção
lembre de escrever no papel a partitura.
Porque a letra dessa música é a figura
do amor intenso a morar no coração.

Lembre o quanto a vida foi uma loucura
na intensidade mais frenética da paixão
e que o ritmo musical deixa de ser ilusão
quando um sonho até hoje se perdura

Possa eu então em qualquer espaço escutar
tua voz macia cantando os tempos idos
as alegrias e os momentos mais sofridos
que trazem a nós o saber o que foi amar.

Então assim poderemos sem lamentos
nas rimas da canção recriar laços
que mesmo presos a velhos cansaços
são as relíquias de saudosos sentimentos.

Enfim quando outras vozes passionais
cantarem a música inteira para o mundo
possamos regredir ao mais profundo
tempo de antanho que não volta mais.

IMPREVISTO – Rafael Rocha

Do livro “Meio  a Meio” - 1979

Veio o amor como uma roupa nova
que posta à prova
viu-se maior que meu esqueleto.

Veio o amor como um sapato novo
que depois de calçado
sobrava espaço a mais dedos.

Enviei tudo para conserto.
Às pressas.
Às pressas, pois necessitava pôr-me
em plenas vestes novas

Esqueci nessa prontidão
que nunca fui sapateiro 
e muito menos alfaiate.

SUSSURROS DA VIDA – Rafael Rocha

Do livro “O Espelho da Alma Janela” - 2009

Vozes sussurraram nos sonhos tentando falar coisas de vida para mim. Nos tempos de hoje, quando a morte é a musa dominante, quem é que sabe falar de vida? Eu não sabia, mas em meus sonhos muitas vozes sussurravam falando desses segredos. As vozes eram conhecidas e ao mesmo tempo eu quase nunca as tinha escutado. Podiam ser anjos, pensei. Talvez eu tenha morrido e...
Estão vendo, meus caros cinco leitores, como pensar na morte domina a vida?
Eu estava apenas tentando fazer com que vocês deixassem de ler estas tolices. Vão embora! Deixem-me em paz! Não estou a fim de ter gente interessada no que escrevo. E ainda mais cinco pessoas. É muita gente, porra! Mas já que vocês insistem....
Digo que estava sonhando e não sei se era um sonho bom ou mau. Era um sonho que me levava aos alpendres dos anseios vitais. Descobria por meio dele como estou perto de partir. Claro, dirão vocês. Todos estamos pertos de partir. Assim é a vida. Desde o instante em que nascemos começamos a morrer.
Não, não é disso que desejo escrever agora. As vozes diziam palavras como esperança e fé. Soletravam substantivos mesclados com os verbos amar e alegrar. As vozes buscavam incentivar o meu ego de cético para pensar em coisas mais interessantes que eu mesmo (um fato que não me causa preocupação é esse: nunca fui interessante e assim não preciso dar razão a essas vozes).
Interessante é que falavam como se fossem pessoas vivas. Seus sussurros alcançavam até o sangue que me deslizava nas artérias. “Quem são vocês? Por que não me deixam dormir?” “Você está dormindo, meu amigo”. “Sei que estou dormindo, mas vocês parecem que pretendem me deixar acordado”. “Você também está acordado” “Olhem, eu não gosto muito de brincar numa hora desta. Ninguém fica acordado e dormindo ao mesmo tempo”.
Um vento morno invadiu a noite do sono e por um instante as vozes se calaram. Tentei recuperar o descanso perdido, mas de repente elas voltaram a judiar do meu cansaço. “Você não pode deixar de lado o pensamento do seu sono e não pode escravizar dentro de si a perdição do descanso”. “Não me enlouqueçam”, reclamei. “Saia da cama e vá até a janela. É quase dia. Olhe para fora e diga o que vê”. “Depois vocês me deixam em paz?” “Sim”, responderam.
No limiar do sonhar e do acordar fiz-me sonâmbulo e deslizei da cama até a janela do quarto. Do segundo andar, olhei para fora e vi apenas a rua deserta. Senti a brisa fria da manhã batendo na minha face e arrepiando meus poros.
“Notou?”, perguntaram as vozes. “Notei o quê? Não notei nada. Só o vento e o frio”. “Então você tem consciência disso, não?” “Claro, estava realmente frio. Ventava”. 
As vozes desapareceram e de repente vi-me na cama seminu a tentar encobrir-me com o cobertor. A aspereza friorenta da quase-manhã envolvia meu corpo com a aragem matutina a entrar pela janela aberta. Busquei proteção nas cobertas quentes, abracei o corpo da mulher, senti o calor e o perfume a emanar de sua carne e de repente descobri o quanto era bom estar vivo.

LUTA - Rafael Rocha

Do livro “Abismo das Máscaras” - 2017

Ao se esperar pássaros voando
em elaboradas liberdades
as ruas voltam a se povoar
de partidários da intolerância
retornando às apologias
de alimentar ervas daninhas.

Atados às correntes dos hipócritas
e às velhas ideias insensatas
imbecis saem às ruas gritando
saudações ao atraso.
Agridem a verdade humana
com o fascismo do outrora.

Vestem novas roupas.
Expõem a idiotice.
Eles são parasitas.
São os inúteis do momento.
Pretendem aprisionar pássaros
que aprenderam a voar.

ITINERÁRIOS – Rafael Rocha

Do livro “Loucura” - 2018

(I)
Pelo tempo hás de fazer itinerários
buscando o amor que meu corpo oferta.
Hei de deixar a minha porta aberta
e meu relógio parado e sem horários.
Podes chegar ainda hoje de surpresa
nalgum instante extraordinário.
Passar por mim no rumo contrário
se não vires minha luz acesa.
Teus olhos buscam a poesia fugitiva
pintada em sonho para te fazer cativa
nos belos versos que eu nunca fiz:
- Dizendo meu amor em altos brados
conjugados nos verbos dos passados
loucos desejos de te fazer feliz.

(II)
No caminho quando os meus amores
marcarem os versos escritos a pedido
chorarás quando eu tiver partido
para o mundo escuro e sem cores.
Teu belo corpo lembrará (arrependido)
nada ter feito contra os dissabores.
Ter arrancado do jardim as flores
plantadas num poema entristecido.
E ao releres estes versos desleixados
conhecerás os desejos procurados
da eterna busca de um poeta aprendiz.
E a lágrima por teus olhos derramada
irá molhar a flor rubra abandonada
na tumba fria a tentar criar raiz.

(III)
Olho teu corpo adormecido na cama
marcando as curvas entre os lençóis
e sinto o quanto eu e tu fomos heróis
vivendo na vida o eterno drama
de saber: sempre curtindo sóis a sós.
Mas nossa louca paixão ainda chama
hoje trazendo apenas o holograma
do passado longínquo para nós.
Toco a pele! Sinto os lábios entreabertos
como à espera da água dos desertos
de um oásis a iludir o sonho feliz.
E aos beijos recriamos nossa história
indo ao longe e trazendo à memória:
- A vida é uma grande atriz!

(IV)
Nos caminhos novos sangues recriados
marcam genes onde laboramos
durante as horas em que mergulhamos
na paixão louca dos apaixonados.
E se um dia itinerários lhes pensamos
eles seguem caminhos desmembrados
apagando seus rumos dos passados
abrindo rotas que não as criamos.
Mas algo resta desses seres insistentes
tal a ternura e o amor polivalentes
trazendo a nós o bem que lhes condiz:
- Belos filhos e pessoas consistentes
feitas das carnes e das nossas mentes
onde a paixão deixou marcada a cicatriz.

(V)
Relógio então parado e sem horários
há de restar na vida mais incerta
inda que eu deixe essa porta aberta
o tempo já marcou os itinerários.
Não mais precisa o amor da luz acesa.
Não vai passar no meu rumo contrário.
Já lá se foi o instante extraordinário.
A vida agora não nos traz surpresas.
Conjugamos nos verbos dos passados
paixão e amor em poemas delicados
e até hoje nada em vida nos desdiz:
- Tua mente agora da poesia é cativa
e recordo como era agressiva 
quando chamava o poeta de infeliz.