terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O SONHO DO AVIÃO – Rafael Rocha

Do livro "Contos Delirantes com Versos em Bolero" - 2017
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   Hoje aconteceu novamente. E ocorre sempre em dias quando vou dormir sóbrio sem uma gota de álcool no corpo.
   Sonho ou premonição?
   Já tinham se passado alguns meses que esse sonho não vinha atrapalhar meu sono. É um sonho sim. E um sonho recorrente.
   Não tem dia ou hora marcada para surgir. Mas quando surge...
   E lá estava eu sentado à mesa de um bar (não esqueçam que fui dormir sóbrio, mas o sonho não quer minha sobriedade), bebendo minha dose de uísque quando aconteceu.
   O avião azul vinha pelo céu de brigadeiro, fez uma curva e de repente estacionou lá no alto. Parou mesmo!
   - Vai acontecer de novo! Puta merda! - pensei.
   E ali, parada no ar, a aeronave desenhou uma grande parábola no céu e depois começou a despencar para um lado mais distante de onde eu estava.
  Gritei apavorado, mas a aeronave continuou caindo. As pessoas ao redor, angustiadas, gritavam como loucas.
   O garçom bateu no meu ombro e apontou para o lado de onde se via a torre de uma igreja.
   - Ali! Ali! Caiu ali! Caiu no meio da vila que fica atrás da igreja! - gritou.
   - Todo mundo no chão! Todo mundo atrás da parede e no chão! - gritou um cara vestido com uma farda verde.
   Deu-se loucura total no bar/restaurante e os fregueses e empregados entraram, jogaram-se no chão e ficaram encostados contra as paredes. Eu fiz o mesmo, mas também tive curiosidade para saber o que iria acontecer a seguir.
   Levantei o corpo e pus apenas um pedaço da cabeça pela janela. Vi e escutei.
   Uma explosão poderosa seguida de um enorme clarão vermelho iluminou o fim da tarde.
   - Puta merda! - gritou o garçom, que agora estava chorando - Mamãe mora por ali! 
   Uma fumaça negra tomou conta de tudo que era lugar. A aeronave devia ter caído numa distância de uns dois quilômetros. Ainda bem que não tinha sido mais perto.
   Pensei isso e recriminei o pensamento.
  Tudo ficou repleto de um fedor insuportável, que aos poucos foi desaparecendo, fumaça e fedor, dando lugar à calmaria de fim de tarde e ao sol vermelho a se pôr no horizonte.
   Grande silêncio!
  Olhei para os lados e descobri que apenas eu estava agachado atrás de uma das paredes do bar/restaurante.
  Todas as outras mesas estavam ocupadas e as pessoas bebiam, comiam e conversavam normalmente.
  Sai do lugar e lá estava meu copo de uísque na mesa a esperar por mim.
  De repente, apareceu outro avião, mas...
  - Acorda homem, temos de ir ao mercado! 
  Aproveitei o momento, dei um salto e pulei da cama. Minha mulher ficou assustada.
  - Que é isso? O que houve?
  - Nada! Nada! Apenas um sonho ruim.

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