Do livro “Poemas dos Anos de Chumbo” - 2017
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Neste março friorento
deste ano de 1968
estou perto dos meus 19 anos
buscando sorrisos
e alegrias esparsas.
Mas os olhos do mundo
estão cansados para sorrir
e a pátria enlutada
sofre sob coturnos.
Não tenho jeito para lutar
como aqueles amigos que se foram.
Fico sentado à mesa
girando letras no papel
criando ondas de versos
que poucos lerão
em defesa
dos meus famintos irmãos.
E pelas ruas os assassinos marcham
com as baionetas caladas e armadas.
Meu pai e minha mãe olham
meu corpo e por temor de mim
fecham as portas e janelas
à minha repentina ideia
de sair às ruas e abrir
todas as portas da vida.
Nem sequer conhecem
o prazer da límpida água
a nascer no meu caminho.
Não tenho ainda uma namorada.
Nem
uma amante delicada.
Sequer um sonho de mulher
para contar-lhe histórias de heróis.
Mas sinto um medo imenso
pelos filhos que eu possa ter
e de que nada mude
e tudo permaneça entregue
à sanha dos assassinos da liberdade.
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