sábado, 7 de dezembro de 2019

RELÍQUIA - Rafael Rocha

Do livro “Meio a Meio” – 1979
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Eu te amei numa noite de chuva.
Não sei se fui o homem adequado,
mas sei que fui sensível
sabendo cavalgar tua carne macia e branca.
Não por amor dos obscuros fatores da vida.
Sim por plena satisfação dos nossos anseios.

Fui extremo e concessivo na firmeza da paixão.
Apertei-te a mim com agrado
e dei-te a delícia de mim.
Defendi teus instintos animalescos
e tuas justificativas.
E não te fiz muito mal quando pediste
a possessão dos felinos ou quando me envolvi
no perfume das tuas gramíneas

Dei o que querias!
Fiz justiça ao teu sexo
de suavidade máxima e promessas
e deixei que na partida o beijo
fosse um agrado mais de amigo que de amante.
Retirei-me lentamente
após a breve acumulação em ti.

Dei adeus enquanto dormias
satisfeita das minhas prodigalidades.
Dentro de ti restou o pedaço de um bardo.
Quiçá um novo artista.
Outros, que não eu, segarão teu horto
amadurecido por minhas águas
e trarão à luz da terra 
hinos aprisionados de nós mesmos.

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