1. Cá estou nas ruas, olhando homens escravos da cruz e das orações, que seguem ordens dos representantes de um deus inexistente.
2. Cá estou nas ruas,
discutindo com a poeira minha intenção de ser e de estar.
3. E vejo que moro numa
babel repleta de escravos. A imundície da crença é total, e a morte é a filosofia/ideologia
dessa crença.
4. Está tudo tão claro - aos
olhos dos homens - de onde chegam e para onde vão essas coisas!
5. Quero fugir dessa hipocrisia
de cruzes e de orações vazias e habitar lugares realistas.
6. Pelas ruas caminho lépido,
ainda que tenha medo/pena de olhar mulheres, homens e os corpos famintos das
crianças de rua. Também tenho pavor dos igrejeiros. Fico aterrorizado com as
suas falas traiçoeiras, que tentam encarcerar meus atos de humanidade.
7. Eis, então, os homens
sem compromisso humano! Por causa deles somos incapazes de defender até um
mísero grão de areia. Eles sobem aos púlpitos e se fazem governo. Reduzem
nossos sonhos a cinzas. E a humanidade fica ignorante, acatando as mentiras dos
dogmas das igrejas e as leis dos parlamentos, criadas por uma sociedade caduca.
8. Eles são ladrões dos
nossos caminhos e das nossas vidas e provocam dor e lágrimas nos lugares onde nossos
pés desejam pisar.
9. Hoje estamos envolvidos pelas promessas vãs de momentos
melhores e proteções “eternas e santas”
em um ignoto além. Tudo mentira! Não devemos acreditar nessas invenções.
10. Prefiro a algazarra de um boteco em uma das ruas do meu bairro, cigarro numa mão, copo de cerveja em outra, escutando a canção mais antiga do mundo: aquela que traz lágrimas aos olhos. Vendo o povaréu da mais pura ignorância a zombar de mim como se eu fosse um filósofo bêbado e excêntrico.
11. Lágrimas caem de meus olhos. Ardentes! Querem ser lavas vulcânicas. Rubras. Têm voos de estrelas cadentes. Querem frutificar a terra. Querem luzificar a lua. Lágrimas lacrimais. Ardentes águas. Têm gostosas ações de sexo e de prazer na liquidez. Elas querem que os homens e as mulheres sejam mais donos de si mesmos e das suas paixões, e mergulhem de corpo e alma no viver intensamente.
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