quarta-feira, 29 de novembro de 2023

DOR DA TERRA - Rafael Rocha

 

Minha dor é a dor da terra!

Recordação do tempo insano

de quando coturnos pisavam as ruas

e baionetas ensanguentadas

mergulhavam nos corpos dos audazes.

Ah, tempos para não esquecer!...

Hoje o jovem da terra perde a memória

e volta a crer na mentira do orgasmo

nascido das estrelas assassinas

pousadas em ombros verdes olivas.

 

Meus cabelos brancos conhecem

a ira da cobiça antiga.

Sabem das crianças assassinadas!

Das mulheres violentadas!

Dos heróis nos paus-de-arara!

Hoje os jovens cortejam a astúcia

dos que ainda pretendem o trono.

Cantam loas e hinos de traição,

crendo na sensualidade canibal

dos forjadores da mentira.

 

Sim, na minha terra os imbecis

querem massacrar o lume da vitória,

cortar as asas dos pássaros

e silenciar o brado retumbante

a viver em seu intenso verde amarelo.

Minha dor é a dor da terra

sendo estuprada/violentada!

A casa grande acende suas luzes

e nas senzalas o homem livre

acorrenta-se outra vez.


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