Prefácio do jornalista José Carlos Gomes para o livro “Farol”
(2019) de Rafael Rocha
Temos um Farol em nossas
mãos!
Isso mesmo, caro leitor, o
poeta Rafael Rocha, nos oferece uma luz capaz de iluminar, sob forma de
poesias, os acontecimentos de um dos momentos mais obscuros da história
brasileira.
Categórico, sem subterfúgios,
duro, sem hesitação, este livro descreve o cenário em que nós, os atores
políticos, perambulamos às cegas, atuando em cenas que, na maioria das vezes,
beira o grotesco.
Mesmo assim, o autor não busca
o susto, o medo. Propõe o despertar das consciências.
No poema que inicia e dá título
ao livro, Rafael ressalta a turbulência que o nosso barco enfrenta: “Busco avisar sobre o abismo nas águas com
minha luz rápida e voadora”.
A luz do Farol cria
trilhas nas águas com a audácia de sua linguagem: “O grande navio e os seus tripulantes pedem pelo clarão da
estrela-guia”. “Clarão que tenta salvar vidas e impedir o naufrágio do grande
barco”.
Nas mais de sessenta páginas
deste livro, o autor faz uma verdadeira tomografia poetizada do vácuo político e
dos piores aspectos da nossa sociedade como o preconceito, a intolerância, a
mentira e o desejo de vingança.
Rafael Rocha não permite a omissão, o cinismo de negar que exista, de fato, uma
nuvem negra ao nosso redor.
Está na hora, portanto, da
tomada de posições.
O Farol faz esse chamado
à resistência.
A leitura deste livro nos dá a
noção exata de que essa nuvem negra não é um fenômeno atmosférico e nem tão
pouco o efeito da emissão de gases poluentes produzidos por grandes polos
industriais.
Ele nos revela que se trata da
materialização de um sentimento.
É verdade!
Precisamos concordar com o
autor que, hoje, caminhamos pelas ruas envoltos numa neblina, densa, tóxica,
carregada de ódio, concentrada principalmente, onde grupos antidemocráticos
assumiram o poder.
Sentimos uma sensação de
angústia quase palpável, asfixiante, como uma premonição de que algo de muito
ruim está para acontecer.
Qual é a origem desse mal? Quem
é, de fato, culpado pela criação dessa atmosfera nauseante?
Durante algum tempo essa foi
uma das discussões ocorridas nas redes sociais. Os dedos acusadores apontaram
para direções opostas. Eles diziam que fomos nós.
Mas o fato é que estivemos
sempre com armas - mesmo que simbólicas - apontadas o tempo todo para nossos
corações. O aniquilamento ou o exílio eram nossos únicos caminhos.
“Queremos nosso país de volta” foi a senha para
o aprisionamento da esperança.
A partir daí, abriu-se um lugar
secreto de onde saíram os escravocratas modernos, os racistas, os misóginos, os
homofóbicos. Mas não há nenhuma novidade nesse circo de horrores. Apenas caíram
as máscaras.
Há 519 anos enfrentamos esse
mesmo monstro. E não é agora que vamos depor nossas armas. Muito menos perder
nossa alegria de viver. “Nada a temer,
senão o correr da luta”, já dizia o grande poeta Milton Nascimento.
A democracia costuma passar por
duras lições e precisamos nunca esquecer que elas são as melhores professoras
da História.
O Farol é primoroso por
conseguir iluminar várias faces da alma humana, funcionando como um pêndulo,
ora acariciando o amor, ora esmurrando o ódio e, no centro do seu balanço,
flertando com a esperança.
No poema Sintaxe, o poeta lembra que o amor e o ódio caminham lado a lado
porque “nenhum deles sobrevive sem a
sintaxe da vida”.
Este livro de Rafael Rocha,
após cair em nossas mãos se torna um instrumento indispensável para nossa
orientação nesses dias tormentosos.
Precisamos providenciar, imediatamente, a instalação de
um farol no ponto mais alto de nossa dignidade.
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