sexta-feira, 28 de junho de 2019

ITINERÁRIOS – Rafael Rocha

Do livro “Loucura” - 2018

(I)
Pelo tempo hás de fazer itinerários
buscando o amor que meu corpo oferta.
Hei de deixar a minha porta aberta
e meu relógio parado e sem horários.
Podes chegar ainda hoje de surpresa
nalgum instante extraordinário.
Passar por mim no rumo contrário
se não vires minha luz acesa.
Teus olhos buscam a poesia fugitiva
pintada em sonho para te fazer cativa
nos belos versos que eu nunca fiz:
- Dizendo meu amor em altos brados
conjugados nos verbos dos passados
loucos desejos de te fazer feliz.

(II)
No caminho quando os meus amores
marcarem os versos escritos a pedido
chorarás quando eu tiver partido
para o mundo escuro e sem cores.
Teu belo corpo lembrará (arrependido)
nada ter feito contra os dissabores.
Ter arrancado do jardim as flores
plantadas num poema entristecido.
E ao releres estes versos desleixados
conhecerás os desejos procurados
da eterna busca de um poeta aprendiz.
E a lágrima por teus olhos derramada
irá molhar a flor rubra abandonada
na tumba fria a tentar criar raiz.

(III)
Olho teu corpo adormecido na cama
marcando as curvas entre os lençóis
e sinto o quanto eu e tu fomos heróis
vivendo na vida o eterno drama
de saber: sempre curtindo sóis a sós.
Mas nossa louca paixão ainda chama
hoje trazendo apenas o holograma
do passado longínquo para nós.
Toco a pele! Sinto os lábios entreabertos
como à espera da água dos desertos
de um oásis a iludir o sonho feliz.
E aos beijos recriamos nossa história
indo ao longe e trazendo à memória:
- A vida é uma grande atriz!

(IV)
Nos caminhos novos sangues recriados
marcam genes onde laboramos
durante as horas em que mergulhamos
na paixão louca dos apaixonados.
E se um dia itinerários lhes pensamos
eles seguem caminhos desmembrados
apagando seus rumos dos passados
abrindo rotas que não as criamos.
Mas algo resta desses seres insistentes
tal a ternura e o amor polivalentes
trazendo a nós o bem que lhes condiz:
- Belos filhos e pessoas consistentes
feitas das carnes e das nossas mentes
onde a paixão deixou marcada a cicatriz.

(V)
Relógio então parado e sem horários
há de restar na vida mais incerta
inda que eu deixe essa porta aberta
o tempo já marcou os itinerários.
Não mais precisa o amor da luz acesa.
Não vai passar no meu rumo contrário.
Já lá se foi o instante extraordinário.
A vida agora não nos traz surpresas.
Conjugamos nos verbos dos passados
paixão e amor em poemas delicados
e até hoje nada em vida nos desdiz:
- Tua mente agora da poesia é cativa
e recordo como era agressiva 
quando chamava o poeta de infeliz.

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