Do
livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” – 2017
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Joel ainda não estava acreditando
que poderia sonhar outra vez com os grandes elefantes brancos.
E
voltando a ter esse sonho, ele continuava a segurar a pistola Derringer e a
tentar levar o cano até o ouvido direito, tentando criar uma forma de
desaparecer no mundo.
Descobriu
então que era uma das mariposas.
E nos
caminhos das mariposas existiam os grandes elefantes brancos.
Não
eram muitos, mas suficientes para assassinar todas as formas de voos lúcidos em
busca de melhores rumos.
Assim
ele notou que uma nova e misteriosa doença mental começava a se propagar em
todos os ambientes do planeta.
Pessoas
saíam às ruas vitimadas por esquecimentos dos tempos de exceção, pensando mais
em si mesmas do que nos outros, abandonando a solidariedade e enterrando na
vala comum os direitos mais representativos da raça humana.
E nos
voos das mariposas existiam os elefantes brancos.
Eles
estavam prontos para assassinar as mariposas sob as luzes brancas de seus
corpanzis.
Os
elefantes sabiam que as mariposas buscavam um lugar nesses caminhos, voejando e
criando ações a favor dos fracos.
Os
elefantes brancos, com suas grandes trombas, sugavam e sugavam a força de
milhões de mariposas, propagando através dessas grandes trombas ideias
retrógradas e da época de quando a humanidade tentou se livrar de seus maiores
assassinos.
Ao
acordar, Joel ficou novamente ensimesmado.
-
Voltei a sonhar com os elefantes brancos! - disse ele para a esposa, durante o
café da manhã daquele domingo.
- Você
precisa é parar de beber vodca! Isso pode ser início de delírium tremens, querido!
- Nada
a ver! Nada a ver! E as mariposas, que eram suas, também vêm ao meu sonho e
agora são sugadas pelas trombas dos elefantes brancos.
- Você
está com cismas por causa de sonhos! Sonhos são meras ilusões!
- E o
médico também retornou no meu sonho. Ele disse que eu posso ficar curado do
câncer se acreditar na força dos elefantes brancos e esquecer o voo das
mariposas.
-
Cismas! Cismas! Acho que você precisa mesmo ir a um analista, querido!
- Você
não sonha também? Qual seu último sonho, mulher?
- Nada
demais! Muitas luzes brilhantes no caminho. Eram tantas luzes que eu ficava
ofuscada e não via nada mais a um palmo do nariz.
-
Interessante isso! Muito interessante! Nada de mariposas no sonho?
- Nada!
Não vi mariposa alguma no meu sonho! Apenas luz! Muita luz!
- É aí
que está o problema. Luzes matam mariposas!
- Lá
vem você com essa história de novo! Explique então por que os elefantes brancos
não apareceram dessa vez para opinar sobre meu sonho.
- Os
elefantes brancos, querida, eu acho que são as luzes que cegam!
- Você
tem explicação para tudo, meu bem!
- Não
estou tentando explicar nada, mas a verdade é que as mariposas morrem quando
ficam ofuscadas pelas luzes. Creio que depois elas renascem em outras dimensões
mais livres e com menos luzes falsas.
- Agora
você está a filosofar, querido!
- Nem
muito nem pouco. Os elefantes brancos enviam luzes fulgurantes para matar as
mariposas que fogem da escuridão, mas não imaginam que fazendo isso obrigam as
mariposas a renascer em maior número e a entender melhor essas falsas luzes.
- Como
é que você sabe disso?
- Porque agora eu sou uma mariposa renascida! E odeio elefantes!
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