segunda-feira, 29 de julho de 2019

ELEFANTES BRANCOS MATAM MARIPOSAS (II) – Rafael Rocha

Do livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” – 2017
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Joel ainda não estava acreditando que poderia sonhar outra vez com os grandes elefantes brancos.
E voltando a ter esse sonho, ele continuava a segurar a pistola Derringer e a tentar levar o cano até o ouvido direito, tentando criar uma forma de desaparecer no mundo.
Descobriu então que era uma das mariposas.
E nos caminhos das mariposas existiam os grandes elefantes brancos.
Não eram muitos, mas suficientes para assassinar todas as formas de voos lúcidos em busca de melhores rumos.
Assim ele notou que uma nova e misteriosa doença mental começava a se propagar em todos os ambientes do planeta.
Pessoas saíam às ruas vitimadas por esquecimentos dos tempos de exceção, pensando mais em si mesmas do que nos outros, abandonando a solidariedade e enterrando na vala comum os direitos mais representativos da raça humana.
E nos voos das mariposas existiam os elefantes brancos.
Eles estavam prontos para assassinar as mariposas sob as luzes brancas de seus corpanzis.
Os elefantes sabiam que as mariposas buscavam um lugar nesses caminhos, voejando e criando ações a favor dos fracos.
Os elefantes brancos, com suas grandes trombas, sugavam e sugavam a força de milhões de mariposas, propagando através dessas grandes trombas ideias retrógradas e da época de quando a humanidade tentou se livrar de seus maiores assassinos.
Ao acordar, Joel ficou novamente ensimesmado.
- Voltei a sonhar com os elefantes brancos! - disse ele para a esposa, durante o café da manhã daquele domingo.
- Você precisa é parar de beber vodca! Isso pode ser início de delírium tremens, querido!
- Nada a ver! Nada a ver! E as mariposas, que eram suas, também vêm ao meu sonho e agora são sugadas pelas trombas dos elefantes brancos.
- Você está com cismas por causa de sonhos! Sonhos são meras ilusões!
- E o médico também retornou no meu sonho. Ele disse que eu posso ficar curado do câncer se acreditar na força dos elefantes brancos e esquecer o voo das mariposas.
- Cismas! Cismas! Acho que você precisa mesmo ir a um analista, querido!
- Você não sonha também? Qual seu último sonho, mulher?
- Nada demais! Muitas luzes brilhantes no caminho. Eram tantas luzes que eu ficava ofuscada e não via nada mais a um palmo do nariz.
- Interessante isso! Muito interessante! Nada de mariposas no sonho?
- Nada! Não vi mariposa alguma no meu sonho! Apenas luz! Muita luz!
- É aí que está o problema. Luzes matam mariposas!
- Lá vem você com essa história de novo! Explique então por que os elefantes brancos não apareceram dessa vez para opinar sobre meu sonho.
- Os elefantes brancos, querida, eu acho que são as luzes que cegam!
- Você tem explicação para tudo, meu bem!
- Não estou tentando explicar nada, mas a verdade é que as mariposas morrem quando ficam ofuscadas pelas luzes. Creio que depois elas renascem em outras dimensões mais livres e com menos luzes falsas.
- Agora você está a filosofar, querido!
- Nem muito nem pouco. Os elefantes brancos enviam luzes fulgurantes para matar as mariposas que fogem da escuridão, mas não imaginam que fazendo isso obrigam as mariposas a renascer em maior número e a entender melhor essas falsas luzes.
- Como é que você sabe disso? 
- Porque agora eu sou uma mariposa renascida! E odeio elefantes!

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