segunda-feira, 29 de julho de 2019

INSTANTÂNEO NO BAR – Rafael Rocha

Do livro “Marcos do Tempo” - 2010
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Quando ela entrou no bar os homens acordaram da bebida
Perplexos passaram os olhos por todas as linhas do seu corpo.

Gestos invisíveis de sonhos em volúpia a homenagearam.

Quando ela entrou no bar, a vida abriu portas e janelas e garrafas.
Copos tilintaram, mãos sorriram,
As almas deram-se graças totais e dinâmicas.

O garçom atendeu-a solícito como pôde
Fazendo dos olhos lentes objetivas para sentir a substância da carne.
Uma cerveja. Um cigarro. Um enredo moreno.
Um meneio coxas/pernas/seios/olhos/lábios e convites incertos.

Ao sair do bar manto e roupa de rainha deu-lhe o vento.
A lua iluminou todas suas perfumadas e sinuosas reentrâncias.
Os automóveis deslizaram de mansinho pelo asfalto.

Quando ela saiu do bar tudo lá dentro adormeceu em outro silêncio:
Os copos calaram os cristais.
Os homens tornaram-se falaciosos.
E o garçom resolveu beber uma meiota de cachaça.

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