segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

LAPIDAÇÃO – Rafael Rocha

Do livro “Meio a Meio” – 1979
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Nas partes dos meus restos intimido-me.
Converto um poema em angústia
no granito dos paralelepípedos
da minha aflitude.

Busco na selva dos famintos
olhos de ágata, voos de águias,
cristais de quartzo
e o signo dos titãs.

Mudo o que vivi e torno-me brusco
lapidando o lenho da árvore proibida
em asas de Ícaro e na flauta de Pã.
Metamorfose!

Ainda assusto minhas horas,
mas computo os minutos
no sangue de um vinho tinto
e no baile das sílfides.

Sabia-me um quase: sêmen
de lua minguante.
Hoje cresço: monstro secreto.
Crocodilo do Nilo.

Sorve-me o espaço!..

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