Décimo-primeiro capítulo do livro homônimo lançado no ano de
2012 – Agraciado com Menção Honrosa pela Academia Pernambucana de Letras (APL)
– Prêmio Vânia Souto Carvalho (2011)
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Todos os domingos, às 9 horas da
manhã, o coronel Wellington Clemens, sua esposa e seu filho participavam da
missa realizada na igreja da Conceição dos Militares, na Rua Nova, centro do
Recife.
Após a celebração, o coronel se
juntava com outros oficiais e suas famílias, rumando ao Restaurante Leite, em
frente à Praça Joaquim Nabuco, onde todos se deleitavam com um excelente almoço
regado a vinho, refrigerantes, cervejas e sorvetes.
O menino Fernando gostava dessas
ocasiões. Sentia crescer dentro dele grande intimidade com o pai. E também uma
grande necessidade de imitar o pai tanto no presente como nos futuros momentos
da sua vida.
Sua primeira comunhão, ao lado de
muitos meninas e meninos filhos de militares, ocorreu nessa igreja, num
radiante 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do templo.
Esse dia não saiu de sua cabeça,
não pela celebração da primeira comunhão em si, mas pelo fato de muitos
oficiais, ainda durante o ofício religioso, terem se reunido em um dos recantos
do templo, longe do altar-mor. Conversavam em voz baixa, mas pelos gestos,
Fernando podia deduzir que algo de muito grave tinha acontecido.
Após a celebração, todos, como
sempre, tomaram o rumo do Restaurante Leite. A agitação entre os oficiais era
grande. Perspicaz, Fernando colocava seus sentidos visuais e auditivos em
suspense.
Logo descobriu: o governo federal
nomeara para o posto de subcomandante da Região Militar Nordestina sediada no
Recife, um oficial, que, como ouvira seu pai dizer, traía todos os juramentos
cristãos e democráticos. “É um comunista! Será que o presidente da República
sabe disso?” “Meu caro Wellington, claro que o presidente sabe”. “Isso é um
perigo! Esse homem não pode ser nosso superior!”. “Temos de nos curvar às
ordens do Rio de Janeiro, coronel. Não vamos partir para a sedição”.
Notou uma raiva insana tomando
conta do pai. Perdeu a alegria pela celebração da festa religiosa.
Queria saber desde já o que
significava comunista.
O motivo pelo qual seu pai odiava
a palavra comunista e os homens comunistas.
Quem
melhor do que seu pai para ensiná-lo nesse assunto?
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