domingo, 7 de janeiro de 2024

DOZE DE MARÇO - Rafael Rocha

 

Saí às ruas do Recife na luzidia semana
de um doze de março.
Dei minhas mãos a algumas mulheres
e bebi com diversos homens.
Passei pela ponte Duarte Coelho
e vi guirlandas de novas luzes
e o Capibaribe escorrendo
a gritar para o Beberibe:
- Sou o cão sem plumas de um poeta!

Dez horas da noite:
Fiquei a beber ao pé da ponte,
olhando a passagem da lua,
até quando a quietude da boemia
começou a silenciar o lugar.
A escuridão nada escondeu
a não ser alvoradas futuras
e milhares de sonhos humanos
prestes a começar outro amanhã.

Na Avenida Guararapes
os fantasmas da cidade acordaram:
Mulheres e crianças e homens da noite
no eterno lazer de labutar.
E a metrópole gritou:
- Eles querem ser notívagos livres
loucos pelo prazer de me amar!
 
Prazer de amar e viver o Recife
na luz estelar dos seus rios.
O verso se abrindo
para algum novo espaço sem fim.
Na extinta rua Formosa
onde a Boa Vista hoje tem seu lugar...
- Ah, queria pegar a maxambomba
e viajar pelos subúrbios!

O jornalista Henrique
vomitou corações coloridos
ao sair do Bar do Gordo.
Mas guardou dentro do dele
o coração de Maria Isabel
sua amada universitária.
Na Pracinha do Diário
seus camaradas
Evaldo, Gilson e Zé Carlos
olharam os passantes,
e ficaram apaixonados
pelo livro oceânico
de um escritor dos arrecifes dos navios.

No Bar Savoy
o poeta encheu o copo
e emborcou a variedade de álcool.
Olhou para o espaço:
os edifícios giravam em rodízio de festa.
De repente,
os mais antigos poetas da cidade
saíram das tumbas,
recitando versos
vindos de seus mergulhos noturnos
no histórico buraco do mar

Nenhum comentário:

Postar um comentário