sábado, 29 de junho de 2019

ESCRITOR DO COTIDIANO – Valdeci Ferraz

Orelha escrita pelo advogado e poeta Valdeci Ferraz para o livro “O Espelho da Alma Janela e Outros Contos” (2009) do poeta e escritor Rafael Rocha, agraciado no ano de 1988 com o prêmio Leda Carvalho pela Academia Pernambucana de Letras (APL)

Certa vez, dentro de uma noite recifense, entre goles de cerveja e ao som das músicas de fossa vindas de uma radiola de ficha, eu e Rafael Rocha olhamos o céu estrelado e perguntamos: o que vamos fazer? (discutíamos o destino). Sem pestanejar, Rafael, então com 23 anos, respondeu: vou fazer Jornalismo! Eu já havia lido alguns contos e poemas dele. No entanto, pensei que a carreira de jornalista talvez não fosse a ideal para alguém que se revelava tão introspectivo. Mesmo assim aprovei a ideia, e melhor ainda, fui junto. Passamos no vestibular. Depois de um ano, abandonei o curso (não era minha vocação). Rafael seguiu em frente. Eu não sabia que, junto com ele, naquela noite recifense, havia uma legião dos melhores escritores do mundo que assinaram embaixo quando ele afirmou que seria um jornalista.
Em 1978, Rafael Rocha, então estudante de jornalismo, inscreveu o conto “Arquivo Morto” em um concurso promovido pelo Clube de Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco. Não obteve classificação, mas este conto foi citado de forma elogiosa na coluna do jornalista Paulo do Couto Malta, no jornal Diário de Pernambuco, fato que soou como uma profética referência à vocação de Rafael no mundo literário da prosa.
Rafael estreou na literatura com um artesanal livro de poesias denominado MEIO A MEIO, lançado quando ele cursava jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP – no ano de 1979.
Após a conclusão do curso de Jornalismo, em 1981, seu conto “Grãos de Terra Sobre” recebeu, em 1989, menção honrosa da Academia de Letras e Artes de Araguari, Minas Gerais. Também em 1988, o livro aqui apresentado, este O ESPELHO DA ALMA JANELA E OUTROS CONTOS foi agraciado com o prêmio Leda Carvalho pela Academia Pernambucana de Letras, e, no ano de 2002, sob o patrocínio da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Rafael lançou o romance A ÚLTIMA DAMA DA NOITE, com uma elogiosa apresentação escrita pelo premiado escritor Raimundo Carrero.
Como Carrero salientou na orelha de A ÚLTIMA DAMA DA NOITE, Rafael investe na literatura com uma coragem invulgar”. Concordo com essa frase do famoso autor de “Somos Pedras que se Consomem” e vou mais além, assinalando que se formos olhar dentro da ótica jornalística, os contos de Rafael estão sinceramente ligados a fatos do cotidiano, como também observou o grande jornalista Ronildo Maia Leite, no jornal Diário de Pernambuco, ao elogiar contos aqui inseridos: “(...) Inácio da Diná é uma pequena reportagem literária. (...) e Forno nº 8 é o quase impossível e maravilhoso furo – e todo furo é quase impossível – de um processo de tortura. Como escreve bem esse cara...”
Esta obra, O ESPELHO DA ALMA JANELA E OUTROS CONTOS, reúne pequenas joias na categoria contos. O trabalho, ainda que agraciado pela Academia Pernambucana de Letras (APL) em 1988, somente agora (2009) vem a público, revisto e aumentado pelo autor, e nele o leitor poderá constatar a lapidação permanente do tempo na criação e formação de um grande escritor. Nas páginas de leitura fácil e de profunda sensibilidade, podemos notar influências de Franz Kafka (Forno nº 8 e Arquivo Morto), de Maximo Gorki (A Menina dos Amendoins), de Jorge Amado (Inácio da Diná) e de tantos outros escritores cujos estilos se pulverizam na variedade dos temas abordados.

VSF
Recife, 2009

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