Orelha escrita pelo poeta Juareiz Correya para o livro “Marcos do
Tempo” (2010) do poeta Rafael Rocha
O Recife deve ter mais de um milhão e 600
mil poetas, um número aproximado ao da sua população. E desconhecemos a
maioria. Os que publicam, os que fazem os seus feitos circularem em livros,
cada vez mais raros, jornais e revistas (com espaços reduzidos e negados),
blogs e sites, via segura para escapar do ineditismo, mantêm a resistência
poética necessária para que a palavra mais humana da existência não desapareça
ou seja jogada no abismo do esquecimento.
O poeta Rafael Rocha, que tem pouco
publicado a sua poesia e tem a sua projeção limitada por uma cidade cada vez
mais mesquinha e desatenta com os seus valores, embora seja reconhecida
nacionalmente como a “capital do lirismo brasileiro”, publica agora este seu
segundo livro de poesia intitulado MARCOS DO TEMPO. O primeiro – Meio a Meio – foi publicado em
1979, exatamente há 31 anos.
Rafael Rocha, jornalista
profissional, com um romance e um livro de contos já publicados, volta a
acreditar na criação poética, consciente de que é com a poesia que um escritor
diz tudo.
E assim escreve sobre o Recife, anuncia
crenças e marcas do seu tempo, em versos que sintetizam filosofia pessimista e
releituras de Manuel Bandeira, Drummond e Neruda e discursa, em oito longos
cânticos, com revolta e indignação, num tom profético que lembra o poeta Álvaro
Alves de Farias e o seu proibido “Sermão
do Viaduto”.
Mergulha no dorso da noite e louva a vida
com o seu amoroso erotismo.
E proclama, identificado com a sua terra:
“Não sou Cristo. Não sou Guevara / Não sou
Maomé. Não sou Buda. / Não sou Oriente. Não sou Ocidente. / Sou Norte e
Nordeste.”
JC
Recife,
outubro de 2010
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