sábado, 29 de junho de 2019

IDENTIDADE RECIFENSE – Juareiz Correya

Orelha escrita pelo poeta Juareiz Correya para o livro “Marcos do Tempo” (2010) do poeta Rafael Rocha

O Recife deve ter mais de um milhão e 600 mil poetas, um número aproximado ao da sua população. E desconhecemos a maioria. Os que publicam, os que fazem os seus feitos circularem em livros, cada vez mais raros, jornais e revistas (com espaços reduzidos e negados), blogs e sites, via segura para escapar do ineditismo, mantêm a resistência poética necessária para que a palavra mais humana da existência não desapareça ou seja jogada no abismo do esquecimento.
O poeta Rafael Rocha, que tem pouco publicado a sua poesia e tem a sua projeção limitada por uma cidade cada vez mais mesquinha e desatenta com os seus valores, embora seja reconhecida nacionalmente como a “capital do lirismo brasileiro”, publica agora este seu segundo livro de poesia intitulado MARCOS DO TEMPO. O primeiro – Meio a Meio – foi publicado em 1979, exatamente há 31 anos.
Rafael Rocha, jornalista profissional, com um romance e um livro de contos já publicados, volta a acreditar na criação poética, consciente de que é com a poesia que um escritor diz tudo.
E assim escreve sobre o Recife, anuncia crenças e marcas do seu tempo, em versos que sintetizam filosofia pessimista e releituras de Manuel Bandeira, Drummond e Neruda e discursa, em oito longos cânticos, com revolta e indignação, num tom profético que lembra o poeta Álvaro Alves de Farias e o seu proibido “Sermão do Viaduto”.
Mergulha no dorso da noite e louva a vida com o seu amoroso erotismo.
E proclama, identificado com a sua terra:
“Não sou Cristo. Não sou Guevara / Não sou Maomé. Não sou Buda. / Não sou Oriente. Não sou Ocidente. / Sou Norte e Nordeste.”

JC
Recife, outubro de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário