Do livro “Meio a
Meio” - 1979
Ah,
como ela parece que tem medo...
Ela
e seus pobres
(coisas
que dão pena).
Olhos
de doente
enganadores
da medicina.
E
chega um que diz
ter
o poder da cura,
pronunciando
palavras ásperas de conforto
e
eis que, acionando
poderes
miméticos e eletrônicos
desconhece
as estranhezas
e
diz ser uma bênção.
E
a palavra?...
E
o desejo de mudar?...
E
o desejo de transmudar?...
Tantas
coisas fáceis de serem ditas
burlam
as vigilâncias e somem.
Apelidam-nas:
as
vulgares sombras proibidas
depoentes
contra os tribunais corruptos.
Ah,
como ela é pobre
e
como é oferecida gratuitamente
desde
os seus ouros das profundezas
negociados
em mesas de nácar
ou
até por dentro dos bolsos
de
coletes delfinescos
que
nem posso mais dizê-la
como
berço esplêndido
(talvez
túmulo onde voejam aves de rapina)
onde
do amanhã nada se sabe
(e
do hoje?).
Onde
gemidos e gritos cortam a luz do cruzeiro
e
nem são mais ouvidos.
–
A dor já é banalidade!
Onde
estás?
Onde
estás, pobre pátria?...
Virgem
deflorada e medrosa de si mesma?
Os
que lhe amam morrem sob os ferros
e
a luz da candeia que alumia
o
velho pendão da esperança
rui
desnorteada e aflita
e
expira e grita:
“Deus! Ó Deus!
Onde estás que te escondes
embuçado nos céus?”
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