Do livro “Farol”
– 2019
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O poema a se escrever nos dias de agora
é repleto de gritos e de mortos vivos.
É o poema das balas de borracha nas
faces.
É o poema de corpos estirados na lama.
É o poema dos cacetetes.
É o poema das algemas.
É o poema vomitado.
É o poema cuspido.
É o poema rastejante.
O poema a se escrever nos dias de agora
já começou a ganhar suas letras redondas
nos corpos dos miseráveis e dos
esfomeados
e no grande câncer a devorar as
entranhas
de homens, mulheres, crianças e
não-nascidos.
O poema a se escrever nos dias de agora
não é metafórico nem é uma parábola.
O poema a se escrever nos dias de agora
é o
poema do medo adjacente ao terror.
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