Conto inserido no livro “O Espelho da Alma Janela” (2009)
agraciado pela Academia Pernambucana de Letras (APL) em 1988, com o Prêmio Leda
Carvalho.
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Ele
e ela na calçada uniram as bocas num demorado beijo. Era noite e nuvens negras
escondiam a lua. Os corpos se apertavam um ao outro. Depois, quando o beijo
acabou, ele viu que ela estava chorando. Baixou a vista. Notou o quanto ela
estava longe dele. Aproximou seus lábios aos dela e ao beijá-la sentiu o sabor
das lágrimas. – Por quê? – perguntou ela. – Porque a vida é assim! – respondeu
ele, dando-lhe as costas e caminhando para o táxi que o esperava do outro lado
da rua. Ela ficou a olhá-lo enquanto ele partia e depois jogou na sarjeta duas
alianças, abriu o portão, entrou correndo em casa, jogou-se sobre a cama,
chorou um pouco e adormeceu. Pela manhã, foi acordada com a carícia em seu
rosto feita pelas mãos de um senhor enrugado e perto dos 70 anos. Levantou-se,
olhou-se toda no espelho, penteou os cabelos brancos e se dirigiu à cozinha
para preparar o desjejum. Descobriu nesse instante que ainda estava viva.
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