Do livro “Abismo das Máscaras” – 2017
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As mulheres da cidade são elas e não são elas.
Fazem de conta que são elas
nos movimentos ritmados dos traseiros
com o cuidado de movê-los
para serem vistos.
As mulheres das ruas da cidade
querem ser olhadas.
Alegra-me saber o tanto que tem
de mulher nas ruas
para olhar e sorrir e desencantar
todas as vezes de quando a noite se encanta
e de quando as tardes estacionam no poente
elas abrem a vida nas paradas dos ônibus
com movimentos súbitos e poéticos
de seios e bundas
como janelas abrindo e fechando.
As calçadas do bar Savoy tinham mesas e
cadeiras
e cervejeiros e prostitutas e outras mulheres
indo e passando e indo e vindo.
Mas isso aconteceu na época dos dinossauros.
O bar Savoy morreu de sífilis
e as mulheres não estão mais indo e vindo
na passarela das suas mesas e cadeiras.
E depois das vinte horas
os gatos são mais pardos e as mulheres
não estão mais nas ruas indo e vindo.
Na verdade elas são elas e não são mais elas.
Suas vidas agora ficam em frente às telas das
TVs
enlatadas e acondicionadas
em novelas e em novelas e em novelas
como mortas sem cemitérios.
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