O romance
“ANDANÇAS” de Rafael Rocha
foi lançado no final do ano de 2018
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Dezesseis anos depois de lançar A Última Dama da Noite (2002),
incluindo Olhos Abertos para a Morte
(2012), o escritor Rafael Rocha encerra a trilogia com este romance denominado Andanças.
Se em A Última Dama da Noite ele trouxe à baila a história
marcante da prostituta Maria Rosa, e em Olhos
Abertos para a Morte a vida pregressa do capitão Fernando Clemens, um
torturador dos anos de chumbo entre 1964/1985, neste Andanças os principais atores fazem parte de uma saga
familiar, todos possuindo ligação direta aos mesmos personagens do primeiro e
do segundo romance.
O leitor vai rever, de vez em
quando, paisagens e trechos das outras histórias e mergulhar nas violências,
paixões e loucuras sexuais de muitos dos protagonistas.
Andanças é um romance amarrado à amizade, à paixão e ao ódio
entre irmãos por parte de pai e – igual aos romances anteriores – vivencia os
conflitos de uma época marcada por torturas e assassinatos institucionalizados.
O escritor Rafael Rocha fecha
com este livro a trilogia ficcional de vidas humanas ambientadas em algumas
cidades do sertão pernambucano e em alguns bairros da cidade do Recife.
Que o leitor possa usufruir com
carinho este trabalho.
Assim esperamos.
O EDITOR
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PRIMEIRA PARTE – CAPÍTULO 1
OTONIEL
Tomei um gole de cerveja sentado a uma das
mesas do bar “Buraco do Sargento” no
Pátio de São Pedro, centro do Recife.
Ao levantar os olhos vi o “mendigo”.
Estava a olhar fixamente para mim.
Porém, não pediu esmola alguma.
Ele começou a circular entre as muitas
mesas do bar, enquanto meus pensamentos erravam em redemoinhos.
Eu buscava inspiração para escrever alguma
coisa diferente.
- Porra! Será que não existe nada diferente
nesta cidade? Será que não existe nada de especial para levar ao conhecimento
do mundo?
- Existe, sim! Eu tenho o assunto!
Terminei de tomar mais um gole de cerveja e
mais uma vez levantei os olhos.
Era ele de novo! Pensei que estava a pedir
alguma esmola e ofereci algumas moedas. Ele fechou os olhos e abanou as mãos.
- Não! Não! Nada disso... Você quer uma
história diferente! Eu tenho a história diferente!
A seguir, dissertou sobre como era fácil
ler os pensamentos das pessoas, bastando olhá-las nos olhos e os meus eram um
livro aberto para ele.
Sorri, irônico, e então ele começou a falar
sobre mim, como se me conhecesse de há muitos anos. Trouxe à baila a forma como
eu nascera; os nomes dos meus pais; dos meus avós; dos meus irmãos; das
mulheres e das pessoas que faziam parte da minha vida.
No começo senti medo, mas aos poucos ele
foi manipulando minha curiosidade e contando histórias.
Diariamente, no mesmo local, naqueles idos
dos anos 1980, bebendo algumas cervejas, com o velho gravador Philips ligado,
eu tomava conhecimento da vida de Otoniel, o “profetinha” do bairro de São José, no Recife, do seu pai Otaviano,
e de Temístocles, seu irmão por parte de pai, de quem ele tinha ódio e medo.
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