quarta-feira, 14 de agosto de 2019

EPÍSTOLA AUDACIOSA E PROFANA

Prefácio escrito pelo jornalista José Carlos Gomes da Silva, Olinda/PE, para o livro “ENCÍCLICA DOS HOMENS – Encyclicae Hominum” do poeta e escritor Rafael Rocha a ser lançado neste mês de agosto de 2019
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Rafael Rocha não é um papa.
Essa constatação óbvia, a rigor não significaria nada, se ele não tivesse cometido a ousadia de escrever uma encíclica.
Isso mesmo, caro leitor!
Neste volume que você tem nas mãos estão escritos os versículos que compõem a Encyclicae Hominum (Encíclica dos Homens). E, no final dela, o poeta ainda nos brinda com belos poemas de sua lavra.
Não considere, em nenhum instante, que o gesto de Rafael Rocha é uma tentativa de aproximação com os pontífices da Igreja Católica. É preciso saber que ele não tem absolutamente nenhuma boa vontade com as religiões, sacerdotes, pastores e seus seguidores, sejam quais forem.
Pelo contrário, em muitos momentos desta Encíclica dos Homens, ele revela todo o seu desprezo pelos que vivem guiados por dogmas religiosos, de joelhos nos templos, rezando e orando pela salvação de suas almas. O poeta/escritor/jornalista desdenha dessas pessoas, chamando-as de “igrejeiros”.
Se Rafael Rocha fosse um papa esta seria a 298ª encíclica publicada. Em latim, “encíclica” significa circular.
Dirigida aos bispos e aos fiéis, é o maior grau das cartas pontifícias. Sua origem são as epístolas do Novo Testamento, e define a posição da Igreja Católica sobre temas importantes para a sociedade.
A primeira encíclica da história, Urbi primum (Primeira Cidade), foi assinada pelo papa Bento XIV, em 1740, e determinava as funções dos bispos na organização da Igreja Católica. Outras, ao longo dos séculos, serviram para denunciar erros e condenar tendências e movimentos como o nazismo, por exemplo.
Nesse sentido, a encíclica Mit Brennender Sorge (Com Ardente Preocupação), publicada pelo papa Pio XI, em 1937, assume aspectos singulares, tanto pela utilização do alemão no lugar do latim (idioma oficial das encíclicas), quanto pela sua oposição corajosa ao regime nazista. Seu conteúdo é permeado pela raiva, desprezo e escárnio, sentimentos raros nas outras encíclicas.
Outros papas também assumiram posições corajosas contra os poderosos de suas épocas, e foram capazes de produzir títulos como Rerum Novarum, Pascendi Dominici Gregis e Humanae Vitae.
Todas essas encíclicas foram publicadas em momentos importantes da história da Humanidade, buscando, de uma forma ou de outra, influenciar os acontecimentos.
Se fosse mesmo papa, Rafael Rocha provavelmente seria excomungado pela Igreja Católica. Mas como poeta e escritor o seu tiro é certeiro. Sua palavra é ácida para os igrejeiros.
Sua encíclica não veio criar regras rígidas de comportamento, não busca avivar a fé de bispos e religiosos, nem procura doutrinar, condenar erros ou ensinar sobre um tema moral de modo a informar os fiéis sobre a necessidade da fé.
Pelo contrário, a Encíclica dos Homens é libertária, terrena. Logo nos seus primeiros capítulos, ela propõe a desobediência aos dogmas religiosos.
Nesta reflexão, Rafael descreve a trajetória humana no planeta. Fala da escravidão provocada pela obediência a dogmas religiosos, do deslumbramento da maternidade, do envelhecimento, da solidão, da morte.
Sua encíclica é carnal! É essencialmente humana, portanto, muito mais divina do que aquelas escritas pelos papas católicos. Aproxima o homem do universo ao constatar que um beijo na boca nos faz vizinhos das estrelas.
Esse posicionamento retoma o eterno debate entre os defensores da salvação do homem na vida eterna, e os que propõem a abolição das diversas formas de opressão humana já na vida terrestre. Rafael não quer impor uma verdade absoluta. Para ele, cada ser humano caminha em busca da própria verdade, mas a realidade nua e crua está na inexistência de um deus.
A Encíclica dos Homens mostra que o voo do homem para as estrelas é feito através da poesia, da música, da dança, do amor, da beleza, do prazer carnal, do gozo sexual. Rafael pretende amainar a dor natural do ser humano e o seu medo da morte, quando ressalta que “a vida é única e passageira, e que apenas aqui neste planeta azul poderemos viver e sonhar e voar para as estrelas”.
Essa epístola, audaciosa e profana, espalha seu evangelho poético nos ventres e nas bocas dos homens, tornando-se uma arma poderosa na luta contra os opressores, sobretudo nestes dias em que o mundo – novamente – é seduzido por ideias totalitárias e fascistas.
O Brasil agoniza, atolado até o pescoço num lamaçal de racismo, ódio, homofobia, mentiras e perseguições. Uma atmosfera sufocante para os amantes da liberdade, que sempre estiveram à frente na luta por um mundo melhor e pela igualdade entre os homens. Não é uma simples coincidência, portanto, a reação em cadeia que é gerada em contraposição aos opressores.
De fato, ao longo da história, todas as vezes em que a sociedade se viu ameaçada em seus direitos e em sua liberdade, os intelectuais, músicos, artistas, escritores e poetas saíram em seu socorro.
Rafael Rocha chama os que participam dessa resistência de guerrilheiros da palavra, quando assinala que eles, e apenas eles, “entram em trâmites de revolta”. A Encíclica dos Homens é uma exortação à luta.
Ela busca pensar a vida dos seres humanos além das paredes e dos altos muros. Encoraja o encontro com os guerrilheiros para criar um exército de homens lúcidos.
Os guerrilheiros da palavra têm plena consciência de que não há um tempo determinado para a execução desse plano de conscientização dos homens.
A Encyclicae Hominum profetiza que uma fome voraz e incontrolável invadirá o planeta, e dinheiro algum conterá sua força destruidora, nem livro sagrado, nem crucificado, nem santos, santas, jejuns ou orações.
Trata-se de um forte e atual alerta sobre as consequências que a vida na Terra sofrerá, caso os nossos destinos permaneçam nas mãos dos que consagram a fé nos fuzis e nas armas brancas; nas mãos dos que exaltam o ódio contra as minorias e contra as classes menos favorecidas; e nas mãos dos igrejeiros que se consideram filhos de um deus onisciente.
Apesar das duras palavras, da atmosfera sombria que nos rodeia, nada de pranto, nem de lamentações. O objetivo desta Encíclica é desbravar novos caminhos. Sem esquecer que a caminhada para a construção da fortaleza da consciência e da liberdade dos homens é feita palavra por palavra, frase por frase.
O propósito de Rafael é colocar os humanos a salvo dos representantes de um deus inexistente e ilusório, e bem longe daqueles governantes que não conseguem conviver com alguém que pensa de forma contrária à deles.
A publicação de uma encíclica, quando ela aponta o dedo contra os poderosos de sua época, é uma atitude corajosa. Traz consigo verdades e acelera o coração na direção da luta, erguendo a espada da liberdade.
Esta epístola de Rafael Rocha não dita regras para bispos e fiéis, pois isso, diz o autor, não ajuda em nada à sociedade, servindo apenas para espalhar falácias e perdões hipócritas.
Sim! Esta encíclica é poderosa! Busca aprisionar os fascistas nos calabouços! Quer ser uma fênix contra a prostituição da pátria!
Sua ideia primordial é juntar centenas e milhares de poetas, e milhões de poemas para encarcerar nas masmorras os gigolôs, vendilhões igrejeiros, políticos e mercenários fascistas.
Mais do que algoz dos inimigos, a Encíclica dos Homens é libertadora. É um manifesto para a criação de um exército de homens lúcidos e livres.
Dentro do atual caos em que vivemos, precisamos criar uma nova consciência, destruir os monstros para sermos cúmplices na criação de um novo tempo neste mundo.
A Encíclica dos Homens ou, em latim, Encyclicae Hominum propõe uma troca: o ser humano deve ser colocado em todos os altares, no lugar dos santos de barro e de cerâmica, e também elevado para muito acima dos ditos livros sagrados.
Cada criatura deve ser dignificada por suas ações: “Nenhum ser humano estará acima de outro. Nenhum ser humano estará abaixo de outro”.
Os guerrilheiros da palavra sabem que para alcançar esse estado de coisas é preciso reconstruir nas consciências as lembranças vivas e naturais da Humanidade.

(JCGS)
Olinda/PE, junho de 2019

2 comentários:

  1. Interessante e oportuno o seu livro amigo Rafael, quando os fundamentalistas cristãos que já assumiram o governo americano de Trump com sua estúpida política (W. Bush antes), estão vindo dos EUA para o Brasil e América Latina com pastores doutrinadores em missões do Ministério Evangélico Capitol da ultra direita para influenciar e converter políticos, autoridades públicas e servidores públicos em Brasília, governantes do Governo Evangélico Bolsonaro, desrespeitando e colocando em risco a nossa primeira Constituição Republicana de 1981 (violam tambem a constituição americana)e a nossa democracia e Estado Laico.

    Parabéns pela iniciativa!
    Abraços
    Oiced Mocam
    Porto Alegre/RS

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  2. Obrigado pelo elogio e pela informação, caro amigo. Espero que adquira o livro. Já forneci as dicas sobre como adquirir no seu Face.

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