Prefácio do romance “A Última Dama da Noite” lançado
no ano de 2002
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Rafael Rocha é um desses
escritores que, sinceramente, acreditam na vitória da ficção escrita, num
momento em que a Humanidade está preocupada apenas com o visual. Não é sem
motivo que Ítalo Calvino chamou o final do Século XX de Civilização da Imagem. Daí a crença de que estamos
assistindo a morte do romance. A morte do livro. Parece, portanto, uma
extraordinária contradição dizer que um escritor acredita na vitória da
palavra. Da palavra escrita. Mas sei que é preciso destacar este aspecto em Rafael Rocha,
porque ele trabalha com uma sinceridade de quem vai chegar ao paraíso. Uma
sinceridade comovente. Que alegra e envaidece.
Agora que me coloco diante deste
romance, onde os personagens são possuídos de uma maravilhosa vontade de viver
e de lutar, tento destacar esta força de um escritor que cria com facilidade,
com habilidade, com artesanato. É certo que Rafael não é – rigorosamente
- um autor estratégico, no dizer de Antônio Cândido. Mesmo assim, circula com
determinação pelos labirintos de uma arte que se torna cada vez mais difícil.
Escrever um romance, hoje, exige qualidades que vão além daquelas consideradas
tradicionais: leveza no contar e habilidade no uso das palavras. Tudo isso,
agora, é pouco. É muito pouco. Pede-se muito mais.
Com a habilidade natural de quem
conhece os segredos narrativos, Rafael estabelece um plano mínimo de
trabalho e faz caminhar por ali os personagens e os fios ficcionais, de forma
que o leitor pode acompanhar a força do criador, com alegria e satisfação. O
autor sabe o que está fazendo e que caminhos perseguir. Esta é a verdadeira
vitória da ficção.
Este trabalho mostra a determinação de alguém que sabe que nesta civilização da
imagem, as palavras se unem para conquistar maiores espaços no amplo campo literário
pernambucano e recifense. Rafael mais do que se pode dizer, investe na
literatura com uma coragem invulgar. Desconhece dificuldades, caminha por todos
os lugares, inventa e parece não cansar. Suas histórias vão sendo elaboradas
com habilidade e jeito, sentindo o calor da investigação e o vigor da espécie
humana cheia de qualidades e de defeitos.
Neste A Última Dama da Noite, Rafael revela qualidades de
ficcionista através do mundo áspero e cruel de Maria Rosa, punida, sempre
punida pelos homens e pelo destino. Castigada, maltratada, ofendida. Sem perder
jamais a dignidade de mulher possuída, entretanto. Há um conjunto de elementos
que formam a força do livro. A narrativa na primeira pessoa, as confissões de
Maria Rosa, o diário de Jurandir Farias. As três se interpenetram e se cruzam
dando ao texto uma grande plasticidade que lembra essas histórias de mil e uma
noites, sem acabar mais, até pela facilidade como está sendo montada a ficção.
Um romance desses - e mais as qualidades do autor - só pode ser muito bom.
Dessa forma, espero que todos
possam ter uma leitura agradável, sobretudo porque este é um escritor que tem
publicado muito pouco e que é, basicamente, reconhecido pelos seus amigos.
Agora, conquista uma maior gama de leitores que permanecerão fiéis, acredito,
por causa de suas imensas qualidades.
Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
Recife, setembro de 2002
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