quinta-feira, 27 de junho de 2019

NOITE COMO ASSUNTO (1979) – Rafael Rocha


Não! Não sejam necessárias as reminiscências.
Minhas noites sempre têm mais luzes.
Maiores multidões de segredos.
Muitas e imensas solidões.

Para início de conversa eis as estrelas:
Tão separadas umas das outras! Dá pena vê-las
mensageiras de sinais do cosmos infinito!

Não!
Recordações passadas não são necessárias
para construir um poema para a noite/hoje
com o tempero incerto da noite/amanhã.
Faço isso com minhas ideias.
Simplesmente!

A noite tem mais luzes e mais abrigos.
Recantos onde todos curtem sorrisos e tristezas.
Possui feminilidade e perfumes.
Bares abertos.
Ouvidos atentos para milhões de lábios.

A noite tem próprios refúgios:
Locais onde podemos argumentar sem medo.
Ruas desertas para ouvir/curtir a madrugada.
Vias onde caminhamos ao acaso
com e sem possibilidade de retorno.

Há o bairro do meretrício
desaguadouro de mágoas em ventres amplos.
E ainda os botecos das ruas estreitas
(fétidos de fezes e de urina)
com seus imensos braços abertos.

Cadeiras, mesas, copos, garrafas.
Refrões claros e escuros.
Muitas mãos gesticulando.
Outras compassadas em eterna espera.
Toda uma completa vivência da noite/hoje
nalguma batucada vibrátil
compasso de algum beijo
no tilintar dos copos em elevação ritual.

Existem despedidas provisórias.
Existem despedidas sem nexo.
Existem despedidas amargas e eternas.

E todos parecem 
na espera ilusória de algum sol...

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