Do livro “Sangramento” inserido na coletânea “Poetas da Idade Urbana” –
2013
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(UM)
O acaso da vida vem no som obscuro do nada
A tremeluzir nas abóbadas das mais frias
noites
Meus dedos digitam letras em contrações
tímidas
Lutando contra as irrealidades escritas por
homens.
Eu! Um poeta desconhecido a caminhar sozinho.
De alma errante nos pesadelos do meu caos.
Eu não quero silêncio. Sou o poeta dos
gritos.
Transmito a morte dos deuses e o prazer do
homem.
Não terei rimas às adorações dos grandes
ídolos.
As horas estão paradas. Ídolos são meras
ilusões.
Escrevo para lutar contra as mentiras
descabidas
De santos, de cristos, de budas e de virgens
católicas.
Dizem que a dor persegue meu sangue
monstruoso
Mas eu falo as palavras sinceras do profundo
nada.
Meu corpo pede uma mulher. Minha boca um
ósculo.
Minhas mãos pedem outras mãos. O cérebro pede
vida.
O som do obscuro labor de um deus perverso
Voeja nas mentiras escritas por homens
insensíveis.
Toco fogo nas bíblias e nos catecismos das
igrejas.
E admiro as labaredas erguidas no altar do
templo.
Eis o poema vindo de tantos anos antes de
mim.
Eis a forma perfeita do voo do pássaro livre.
No vento a poesia dardeja as letras da
liberdade
Sem altares ou sacrifícios. Apenas carne
humana.
(DOIS)
Ergo-me em sangue
Sou iconoclasta.
Ergo-me em pele.
Sou legião de letras.
Bailarino imenso/insano
Danço, danço, danço
As músicas do caos
Vivem nas ruas ermas.
Estou de pênis ereto
Ah, mulher vadia!
Não sou pecado cruel
Sou homem são.
Sou músculo e no ar
Gargarejo o palavrão
Da foda múltipla
Sem recalques.
O poema é um grito
Ao tudo e ao nada
Habitante do acaso
Do universo azul.
(TRÊS)
As vestes dos padres necessitam de traças
Livros de deus e satã precisam do lixo.
Cruzes das paredes têm de ser retiradas
Para a liberdade do homem amanhecer.
Sermões de pastores precisam de cale-se.
As mentiras bolorentas têm de cessar.
Púlpitos têm de abrigar vozes de poetas
Para a liberdade do homem amanhecer.
Neste meu surto de versos iconoclásticos
O cosmos infinito tem espaço em si.
O corpo nu da mulher e o orgasmo suado
Campeiam nos sons toscos de minha lira.
E nas ruas homens vazios teimam em crer
Na tendência de o morrer levar à outra vida.
Ingênuos não veem a vida como unidade
E os vermes habitantes da casa da morte.
Ah! Danço, danço, danço, danço e danço...
Beijo as coxas das mulheres mais putas.
Ah! O gemido do orgasmo prepondera
Nos líquidos vaginais em mel e sêmen.
Sou homem, minha gente! Estou vivo!
Sou poeta e dono de meu ser inteiro.
“Eu sou dono e senhor de meu destino!
Eu sou o comandante de minha alma!”
(QUATRO)
Deus é um anestésico. Deus é um ópio ruim.
Não existem coisas do além para adorar.
Satã é a mentira do antônimo do deus
O único fogo real é o fogo do prazer da vida.
Estou saindo de um longo exílio letrístico.
E deixo de mostrar piedade aos religiosos.
Pretendo transformá-los em estátuas de sal
Após a explosão da bomba nos livros “santos”.
Ana, Paula, Márcia, Maria e todos os nomes
Vinde até minha cama curtir o deus peniano
Em idas e vindas e penetrações variadas
Eu deixo olharem as ações pelo espelho.
Este sou eu. Sou ateu! Múltipla pedra/areia.
Não tenho fé em coisas do outro mundo.
Deixei de acreditar em histórias de trancoso.
Hoje lanço farpas contra igrejas e templos.
Sim, escreverei os poemas da vida eterna.
Vida marcada no sangue deixado no mundo
Desde a eternidade de meu pai e minha mãe
Desde o nascimento de meus filhos.
Sim, escreverei os poemas imortais no livro
Serão chamados de blasfemos delinquentes
Rirei de tudo isso e farei só uma pergunta:
Onde o deus a interagir com os homens?
(CINCO)
Ele não é nada amada, amante.
Ele não existe amada, amante.
Pecado é uma ilusão para vender
Imagens de cruzes e de bíblias.
Amada, amante, nua e benéfica.
Sobe sobre mim teu corpo. Cavalga-me!
Amada, amante, nua e suada
Leva à tua boca o leite de meu ventre.
Chupa-me! Fode-me! Dança em mim.
Chupo-te e fodo-te louco por tua vida!
A flor do ventre se entreabre inteira
E a agarro para minha paixão de pedra.
Teu corpo é o corisco dessa paixão.
Tua boca sussurra indecências.
Tua bunda é a deliciosa cordilheira
A ser escalada por meu labor de macho.
O teu cheiro vivaz saltita como a noite.
Amante! Teu sabor é sal e glória.
Amante! Tua saliva é o xarope
Contra as dores das prisões e do caos.
Amada, amante, nua e poderosa
Deita-te e espera meu ser entrar em ti.
Serei o real deus vivo nas tuas entranhas
E far-te-ei um filho e o poema de um filho.
(SEIS)
Deram 666 o nome eterno do inominável.
Minha gargalhada voa sobre casas e oceanos.
Os fundadores de seitas são mentes criativas
Criando gozos molhados nos altares e nos
púlpitos.
Deram 666 o termo de um animal com chifres.
E eu zombo da merda desses bruxos idiotas.
Mas nos refluxos de gente nas casas da cidade
Os crentes se amedrontam e se retorcem de
medo.
Grandes e ricos templos abrigam a mentira
infame
De um deus vencedor do inominável ser das
trevas
E o dinheiro escorre nos sacrários e nos
vestíbulos
Para o bem dos exploradores da ingênua fé
alheia.
Passam mulheres e homens a viver loucuras
subumanas
Trazendo em si o 666 em fragrância e estilo.
Têm uma febre de crença no vencedor
apocalíptico.
Têm um medo inexplicável do filho invisível
da treva.
O inominável vive na irmandade do deus
recriado
Nas priscas eras da Terra pelos ricos
sacerdotes
Adoradores da cruz e dos pregos no monte
Gólgota
Torturadores da carne e das mentes da
humanidade.
(SETE)
Meu grito é doença venérea:
Pouco me importa deus e diabo!
São duas merdas traiçoeiras!
Meu grito é de renegado:
Fé é coisa para medrosos!
Não tenho vocação para o medo!
Meu grito é de eternidade:
Está escrito! Está escrito no poema:
A raça humana
vive em eterna mentira!
E existem os mestres de teologia!
E existem os donos da moral!
Merda! Será que eles sabem o fazer?
E são capitalistas loucos
Os representantes de deus e de satã.
E são publicitários do pecado
Arma atômica do todo-poderoso.
Meu grito é iconoclasta:
Ópio e sono dentro das almas
Trazem o deus perverso em livro santo.
Em letras de abençoamento
Nas cédulas do nosso dinheiro.
Em shows hollywoodianos
Nas missas e nas prédicas.
(OITO)
Peguei o corpo de uma linda mulher na cama
E na madrugada tingi sua pele toda com
lágrimas
Era uma puta doce e triste das ruas da cidade
Ela dizia graças a deus e deus me livre do
mal.
E em sua bendita bunda deixava minha parição
De orgasmos nascerem furiosos em descarregos
E gemia em putice: Oh, deus! Oh, deus! Oh,
deus!
Isso é bom! Oh, deus! E o deus gozava por
ela.
Peguei o corpo de uma linda mulher na cama
E na madrugada tingi sua pele com espermas.
Era uma mulher comum e mãe de meus filhos
Ela não dava graças a deus pelos orgasmos da
vida.
E nem dava a bunda. Dizia: isso é coisa do
diabo.
E nos seus
descarregos de gozo calava-se.
E se gemia no interior não dizia Oh, deus!
Oh, deus!
Ela jamais diria deus toda nua e no gozo da
carne.
Todas as duas são mulheres surdas à verdade.
Todas as duas são mulheres abertas à mentira.
Padres e pastores têm nelas campos abertos
A serem arados com as oratórias das
divindades.
(NOVE)
Um pássaro canoro voa ao meu redor
Não mostro gaiolas para o seu canto
Digo: fica no ar e solta teus trinados
Chama se alguém trouxer grilhões
Para o teu canto incomensurável.
Voa, pássaro, mostre-se como o poeta:
Respire o ar invisível do planeta
Faça coro com as montanhas e os rios
E com o vento entre os galhos das árvores
Antes de morrer. Permaneça livre.
Homens de olhos abertos para a terra
Andai de cabeça erguida. Nada de escravidão.
Mulheres belas, feias e todas: o saber
É o viver do perene espaço de tempo
Entre paixões, músicas, danças e orgasmos.
Abram livros escritos por poetas malditos.
Leiam os versos libertos das fantasias
Digam a vida como
esse pássaro:
Cantar a liberdade longe de salvadores
Criados pelos sermões das montanhas.
A vida possui o prazer alado. A vida é vento.
Nada de ser escravo de uma fantasia humana.
A vida é um rio em busca do oceano
E homem e mulher têm de saber seguir a trilha
E não ficar presos em grilhões a bem da
mentira.
Pássaro canoro! Voa! Voeja sobre o ar
terrestre!
Serei companheiro e vigilante do teu canto.
Livre és mais forte que todos os livros
santos.
Pássaro! Mostrai às mulheres e aos homens
A grandeza de tua liberdade no espaço.
Liberta, ó pássaro.
Liberta o homem!
(DEZ)
Mulheres para mim são as minhas catedrais
A elas ofereço meus sutis poemas de amor.
Corpos a dar prazer intenso molhado e vivaz
Onde despontam seios em gestos de louvor.
Nada de cruz a me trazer ventos sepulcrais
Quero uma boca rubra em lúbrico salivar
E quando tiver de escrever a palavra jamais
Possa partir sem prometer um dia o voltar.
O prazer será a chama e a mais fiel doutrina
A fazer a vida fulgir no mais vibrátil olhar
Antes de o fim marcar a sua ingrata sina.
Serei mundo e serás minha sempre no passar
Do instante feminil dessa bela alma ferina
Ateia e bem-vinda ao tempo a me adorar.
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