quarta-feira, 26 de junho de 2019

NIVELAMENTO (1986) - Rafael Rocha


Ao nível de mim escrevo...

um riso iluminando velhas noites
à noite
a noite das esperanças
minhas
esperanças dentro de um sonho
sonho
dentro de mil sonhos
sonhos
vazando no sentido das horas
das horas
das existências mutuais
em que existo
sistema vivo
entre macias mãos
em teu corpo
suavidade de água.

teus dedos
nos meus cabelos
deslizando
viajantes
buscantes
de vagas velhas
variedades
eu repouso
em teu colo
querendo ser infinito
na tua carne perfumada
e tudo sempre
está ao nível de mim.

ao nível de mim
de mim
por toda parte
sinto fome
e és pão e abrigo
sinto-te amor
relâmpago
trovão estrondando
em céu limpo
feito bater de coração
coração ao nível de mim
coração onde em si mesmo
ensimesmo?
mesmo se
tomo eu mesmo teu corpo
olhando espelhos?
Batendo em paredes?
Levando à cama?

carne ao nível de mim
dança iluminada
corpo onde cada
gesto
vive na espera
e clama e chama
por desejos
lúbricos
e paixões lascivas... 

Sempre ao nível de mim...

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