Do livro “O Espelho da Alma Janela” - 2010
- O que é um menino? - perguntou ela para mim.
- Ora, um menino? Um menino é uma coisa viva. É uma esperança a ser.
O menino sempre busca um algo, pois na cabeça de todo menino a vida é um espaço
parado e ele nunca cresce. O menino um dia será homem, mas se ele conseguir
será sempre um menino. Eterno.
- Você se vê assim? - perguntou de novo.
- Vendo-me menino? Ser menino é ser um sonho. É ser uma casa na
árvore. É ser um grande jogador de futebol. É admirar o pai e desejar a mãe. É
imaginar ser gente grande e sentir que gente grande não sabe viver como menino,
pois se preocupa demais com as conveniências. Preocupa-se demais com as
“inconveniências” de tudo aquilo a criar uma imagem infantil.
- Porém, você não é mais um menino. É um velho!
- Sei não! Este velho de que você fala é um menino ou um velho com
pensamento de menino. Sou a realidade de todos os meninos com as esperanças de
criança.
- Mas você está morrendo! - implicou mais ainda.
- Ah, ah, ah! Perdão, mas o menino não sabe o que é a morte e sua
vida cresce a cada instante nos seus gestos marotos, nos seu piscares de olhos
e nas suas travessuras e anseios de seguir o tempo.
- Morto! Você está morto! – gritou ela.
- Ah, você não sabe de nada! Ninguém morre. O homem que é menino se
transpõe no tempo. É imortal!
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