Conto
inserido no livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” - 2017
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Um pequeno terremoto aconteceu em Caruaru no dia 31 de outubro de
2012, durante a madrugada da quarta-feira.
A população ficou assustada, mas todos os habitantes da cidade
sabiam que de vez em quando aconteciam esses pequenos tremores de terra.
Pela manhã, ficou mais assustada ainda.
O estádio de futebol do Central Sport Clube tinha desaparecido do
mapa e em seu lugar nascera ou despontara (difícil achar a palavra correta) um
grande lago de águas cristalinas.
A novidade causou uma pequena revolução na cidade. Como aquele
lago surgira assim do nada?
A prefeitura local comunicou imediatamente o estranho fato ao
Governo estadual e este levou ao conhecimento do Governo federal.
Em questão de uma hora, todas as redes de televisão do Brasil
chegaram de helicóptero para divulgar o inesperado acontecimento.
As emissoras de rádio não paravam de transmitir notícias sobre
isso e lamentavam o surgimento do lago, pois daí a três dias, no domingo, o
Central Sport Clube teria de jogar uma partida de futebol pelo campeonato
pernambucano contra uma equipe do Recife.
E agora? O que fazer?
Geólogos, geógrafos, engenheiros e cientistas de todos os cantos
do país e do exterior começaram a chegar à cidade. Todos queriam ver o estranho
lago e também descobrir como ele tinha tomado o lugar do estádio.
Parecia bruxaria!
Os habitantes de Caruaru é que estavam felizes, principalmente os
jovens e as crianças.
- Agora teremos praia! Vai ser muito bom! - gritavam.
Algumas lanchas especiais foram trazidas e toda a área
interditada. Isso gerou várias reclamações da oposição contra o prefeito e
contra o governador.
- Não sabemos ainda o que isso significa! - disse o prefeito para
a reportagem - Temos de tomar todo o cuidado e investigar o acontecimento.
Depois, se não descobrirmos nada perigoso, liberamos o lago.
Ns primeiras horas, a vigilância foi extrema. Um rapaz terminou
sendo preso no lado sul do lago por ter pescado um grande dourado de água doce
com uma rede de arrasto. Assim, ao redor de todo aquele monte de água foram
colocados cartazes dizendo: PROIBIDO PESCAR!
O prefeito fez uma reunião de emergência com todos os seus
assessores. Um sorriso iluminava a sua face. Na reunião, ele solicitou ao
senhor Bruno Lagos, um dos engenheiros de sua equipe, a montagem de uma nova
estrutura hídrica.
- Agora não vai faltar água e não teremos mais racionamento!
Os exploradores científicos fizeram uma reunião à tarde. Não
conseguiram descobrir nada sobre o misterioso surgimento de tanto líquido no
lugar do estádio de futebol.
- É um mistério! Que coisa estranha! - diziam.
O dia terminou. O sol desapareceu no horizonte. A lua nasceu e
iluminou o grande lago. Porém, milhares de pessoas queriam, porque queriam ver
a surrealista aparição.
Os religiosos disseram que aquilo era um milagre. Deus estava a
falar com o seu povo através das águas. Também solicitaram à prefeitura
permissão para batizar as pessoas com as novas águas.
Pouca gente dormiu naquele dia e na quinta-feira. O lago era
fantástico. O mundo inteiro já o conhecia através da internet e das redes
televisivas.
A madrugada da sexta-feira chegou e pessoas e mais pessoas
apareciam para ver in loco o
fantástico lago. Policiais fardados e outros à paisana tomavam conta da
multidão para que nada acontecesse com ela.
Lá para as quatro da matina um grande nevoeiro começou a tomar
conta de todos os espaços circundantes àquelas águas, escondendo objetos,
pessoas, veículos e tudo que estivesse tanto no centro do lago como ao redor.
O denso nevoeiro foi seguido por um forte perfume a entontecer o
cérebro de todas as pessoas presentes que aos poucos foram caindo numa modorra,
desabando os corpos e adormecendo.
Lá pelas oito da manhã da sexta-feira, 2 de novembro, começaram a
sair do torpor em que se tinham vitimado.
As centenas de pessoas recém-chegadas dos mais estranhos lugares
do mundo e do país, juntas com os milhares da população da cidade olharam-se
umas às outras e começaram a se perguntar o que estavam fazendo ali naquele
espaço.
Não recordavam nada.
Muitas delas começaram a acordar nas arquibancadas e até nos
camarotes do estádio que tinha reaparecido no lugar do lago.
Bruxaria ou sinal dos tempos?
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