Quarto capítulo do livro homônimo
lançado no ano de 2012 – Agraciado com Menção Honrosa pela Academia
Pernambucana de Letras (APL) – Prêmio Vânia Souto Carvalho (2011)
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O
homem magro de nariz adunco, de óculos escuros, estava sentado a uma das mesas
de um bar, numa rua transversal a um dos portões da Faculdade de Direito do
Recife, a beber cerveja. Seus olhos por trás das lentes navegavam de um lado
para outro, observando a área. Parecia esperar algum acontecimento específico.
Ou alguém. Do outro lado, em frente à Praça Adolfo Cirne, um jipe escuro se
encontrava estacionado. Ao volante, um homem gordo e suado. Recostado em um dos
lados do jipe, dois altos e musculosos rapazes conversavam.
Uma
meia hora já se tinha passado desde a chegada do grupo àquele local. Mas seus
integrantes continuavam pacientes, como se outra coisa não tivessem a fazer a
não ser esperar, quando um vozerio soou pelos lados de dentro do portão. Um
rapaz e duas moças riam e soltavam pilhérias uns a outros. Uma das garotas
beijou o rapaz no rosto, dando-lhe a seguir uma palmada carinhosa. “Cuide-se,
viu?”, disse, ela partindo em
seguida. A outra, logo
após, encostou seu corpo contra o corpo do jovem e o enlaçou pelo pescoço com
os braços para a seguir colar os lábios nos dele. O beijo foi demorado. Sob os
olhares do grupo de homens recostados no jipe.
“Ainda tenho aula. Depois a gente se encontra,
certo?”, disse a garota, olhando nos olhos do rapaz. “Certo! Vou à tua casa de
noite. Vamos vê se ficamos mais sozinhos. Quero te beijar muito, pegar muito em
você”, respondeu o rapaz. “Deixa de ser safado. Tudo tem seu tempo. Espero você
em casa”, respondeu a jovem. Beijaram-se outra vez e a seguir ele se afastou
dela, acenou um até logo e rumou para o portão da universidade. Já na saída,
voltou a olhar para trás. Não vendo mais a garota, sorriu e começou a caminhar
em direção à Rua do Riachuelo. Não notou o homem de nariz adunco e de óculos
escuros acenar para os dois musculosos rapazes que estavam encostados ao jipe,
cujo motorista, gordo e suado, deu partida na máquina, seguindo também em
direção à mesma rua.
Logo
ao chegar nessa artéria, uma mão pesada caiu sobre os ombros do rapaz, enquanto
outras mãos roubavam sua valise cheia de livros e cadernos. Tentou reclamar e
reagir, mas sua cabeça explodiu em estrelas e em dor ao ser alcançada por um
porrete. Sentiu seu corpo içado por dois braços fortes e jogado dentro de um
veículo, cujo motor roncou, fazendo o carro dar um pulo à frente e depois sair
em velocidade moderada pela rua. Do outro lado, Zé Borges, dono de um fiteiro
foi a única testemunha do sequestro. Ficou a olhar o jipe desaparecer entre
outras dezenas de carros, coçou a vasta cabeleira castanha com alguns fios
grisalhos, encolheu os ombros e voltou sua atenção para um homem magro, nariz
adunco e de óculos escuros parado à sua frente. “Uma carteira de cigarros, por favor. Sem filtro”. Rapidamente, o
dono do fiteiro esqueceu o que tinha visto.
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